O peso da desigualdade no prato e na mente

Estudos do Harvard Health Blog e da revista Psychiatry Research mostram que dietas ricas em ultraprocessados e açúcares aumentam o risco de transtornos mentais.

Por Camilly Oliveira

Proteínas, gorduras saudáveis, vitaminas e minerais afetam diretamente o humor, a memória, a atenção e até os níveis de ansiedade e depressão. Estudos do Harvard Health Blog e da revista Psychiatry Research mostram que dietas ricas em ultraprocessados e açúcares aumentam o risco de transtornos mentais. Analise publicada no BMC Medicine com mais de 20 mil pessoas identificou que uma alimentação pobre em nutrientes eleva em até 58% o risco de depressão.

 

Mas como garantir saúde mental em um país onde 33 milhões de pessoas passam fome e mais da metade da população vive com algum grau de insegurança alimentar, segundo a Rede Penssan? Dietas com excesso de industrializados e escassez de alimentos in natura não ocorrem por escolha, mas por condição social. O Brasil real não segue dieta mediterrânea, mas o que o bolso permite: arroz, pão e salsicha. A precariedade alimentar acende um alerta sobre os efeitos invisíveis da desigualdade na saúde emocional.

 

Pessoas em situação de vulnerabilidade estão mais expostas a déficits nutricionais que comprometem a produção de serotonina, neurotransmissor fundamental para o equilíbrio emocional. Isto forma um ciclo perverso de menos comida saudável, mais sofrimento psíquico, menos disposição para reagir. O ciclo não é psicológico, é bioquímico, com classe, cor e CEP.

 

Pensar saúde mental sem considerar alimentação é omissão. A psiquiatria nutricional precisa sair dos consultórios e entrar nas políticas públicas. Porque onde falta comida, falta também equilíbrio emocional. E não há tratamento eficaz que sobreviva à fome.