Último dia da Conferência dos Bancários aborda saúde mental da categoria

Além da apresentação dos resultados da Campanha Nacional dos Bancários de 2025, o psicólogo André Guerra palestrou sobre a urgência de debater a saúde mental da categoria.

Por Itana Oliveira

No terceiro e último dia da 27ª Conferência dos Bancários da Bahia e Sergipe, realizada neste domingo (20/07), a categoria se reuniu para apresentar os resultados da Campanha Nacional 2025 e debater a saúde mental dos profissionais do setor, por meio da palestra do psicólogo André Guerra.

 

Na apresentação dos resultados da Campanha, que reúne dados técnicos da categoria, além da opinião dos bancários sobre temas como inclusão, equidade salarial, evolução do setor frente à automação dos serviços e justiça tributária, foi apontado que os profissionais acreditam que, como forma de compensar a automação, seria necessário o aumento da remuneração fixa, considerando que os lucros tendem a se elevar com a automatização e aceleração dos serviços, além de resultar, muitas vezes, na retirada de empregos. Um dos exemplos mais evidentes e preocupantes é o número de agências encerradas e postos de trabalho perdidos. No ano passado, alguns dos principais bancos do país, Itaú, Bradesco e Santander, fecharam 856 agências no Brasil. Em 2023, a situação se repetiu: 679 agências foram fechadas. Esse padrão, entretanto, não é recente; desde 2014, mais de 5 mil unidades foram encerradas.

 

Quanto à inclusão, os números expõem a escassez de profissionais com faixa etária mais elevada: apenas 30,6% têm mais de 50 anos, o que reforça o receio dos trabalhadores em relação à perda do emprego em algum momento da vida, especialmente considerando que 53,2% da categoria possue mais de 16 anos de atuação.

 

Profissionais negros também são minoria, representando apenas 10,2%. Em relação aos indígenas, os dados são ainda mais alarmantes: 0,3%.

 

Outro dado preocupante é que 45% dos participantes da consulta não acreditam na existência de disparidade salarial entre homens e mulheres, enquanto 32,1% reconhecem a desigualdade, mas afirmam que os bancos têm adotado medidas para revertê-la. Já 22,9% afirmam que a diferença de remuneração por gênero existe e que as instituições não atuam para solucioná-la.

 

Ao serem questionados sobre o futuro profissional, especialmente frente às transformações no setor bancário, 43,1% afirmaram preferir trabalho com carteira assinada em um banco público, contra 8,6% que preferem atuar em instituição privada. Outros 36,2% desejam aprovação em concurso público fora da área; apenas 1,8% escolheram trabalhar com CLT em outro ramo. Os dados sobre pejotização e terceirização, tema amplamente discutido e já presente na categoria, revelam que somente 1,1% preferem atuar de forma autônoma como pessoa jurídica, e 0,7% como PJ na área financeira. Ou seja, o setor valoriza fortemente a estabilidade profissional.

 

Em relação à justiça tributária, 75% consideram ‘muito relevante’ a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 7 mil. Outros 85% apoiam que quem recebe acima de R$ 600 mil ao ano seja taxado em até 10%, como forma de equilibrar a isenção concedida às faixas mais baixas.

 

Atualmente, a PLR (Participação nos Lucros e Resultados) de até R$ 7.640,80 por ano é isenta de Imposto de Renda, conquista do movimento sindical. No entanto, os dividendos recebidos por acionistas de empresas também não são tributados. Diante disso, 90,2% dos entrevistados acreditam ser ‘muito importante’ ampliar a faixa de isenção da PLR.

 

Saúde mental

 

A segunda mesa reuniu para tratar do principal tema do dia: saúde mental. Os convidados compartilharam relatos angustiantes sobre colegas que apresentaram graves problemas de estabilidade emocional decorrentes da pressão no ambiente bancário, independentemente da idade ou do tipo de instituição, seja pública ou privada.

 

O psicólogo André Guerra, palestrante da manhã, abordou o tema A função antissocial dos bancos e o adoecimento generalizado da categoria. Segundo ele, hoje, a pauta mais urgente no movimento sindical deve ser a saúde mental, dada a gravidade da situação. Ele também destaca que o conceito de saúde nos sindicatos, principais defensores dos trabalhadores, precisa ser reavaliado, pois, ao falar de saúde, geralmente se refere à doença. Ainda segundo Guerra, o foco atual do setor de saúde dos sindicatos é a recuperação dos bancários adoecidos, mas ele ressalta a importância de investir na prevenção em vez de atuar apenas no tratamento. “Saúde não deve ser o manejo da doença”, afirma.

 

Na sequência da conversa, o palestrante aponta que o adoecimento da categoria é reflexo da estrutura violenta da organização social capitalista, e que ele, na profissão, muitas vezes se sente “enxugando gelo” diante do volume excessivo de casos.

 

Guerra ressalta que o ser humano é tratado como instrumento de manutenção do capital através do lucro. Com isso, o bancário passa a ser valorizado com base em indicadores quantitativos. Ou seja, quando metas, muitas vezes inatingíveis, não são cumpridas, o profissional é descartado, como uma máquina quebrada. Esse cenário é um dos principais fatores que geram estado de alerta constante e níveis elevados de ansiedade entre os trabalhadores.

 

Hoje, a categoria bancária ocupa o posto de setor com maior índice de adoecimento na Bahia. Dados indicam que 49,5% dos afastamentos são decorrentes de transtornos ansiosos e 27,1% por depressão. Em comum acordo, 95% dos bancários concordam que o trabalho no setor afeta negativamente a saúde psicológica.

 

Para encerrar a Conferência, a discussão foi aberta aos convidados, que manifestaram perspectivas sobre os três dias de evento, além de experiências vividas nos respectivos ambientes de trabalho. O declínio da saúde bancária permaneceu como principal assunto relatado pelos presentes. André Guerra, em resposta às considerações e perguntas, finalizou afirmando que a luta é ideológica e precisa de mobilização coletiva. O palestrante reforçou a necessidade de despertar o interesse social da luta, especialmente quando se trata da juventude atual. Ele cita que é necessário engajar os jovens, mostrá-los pelo que devem e precisam lutar.

 

Conferência Nacional dos Bancários: 

 

Durante a 27° Conferência, foi eleita a delegação sindical que irá representar a categoria na Conferência Nacional dos Bancários, que ocorrerá entre os dias 22 a 24 de agosto deste ano, em São Paulo.