Nem tudo é sobre produtividade

Esta obsessão esconde um colapso emocional, recente estudo publicado no Journal of Positive Psychology concluiu que pessoas que praticam hobbies apenas por prazer relatam níveis mais altos de bem-estar e menor incidência de sintomas depressivos.

Por Camilly Oliveira

A lógica do “empreendedor de si mesmo” sequestrou até o tempo livre, atividades rotineiras que antes serviam para descansar viraram vitrines de performance. Cozinhar pede que você crie um canal no youtube, correr exige inscrição em maratonas, ler precisa virar resenha no instagram. Tudo precisa de retorno, resultado e monetização. 

 


Um levantamento da Designdash mostra que transformar hobbies em fonte de renda enfraquece o prazer original, eleva os níveis de estresse e compromete a motivação original. O capitalismo, atravessa a intimidade dos desejos, e impede de simplesmente gostar de algo por simplesmente gostar, sem a necessidade de vender, produzir ou divulgar.

 


Esta obsessão esconde um colapso emocional, recente estudo publicado no Journal of Positive Psychology concluiu que pessoas que praticam hobbies apenas por prazer relatam níveis mais altos de bem-estar e menor incidência de sintomas depressivos. Outro relatório, do American Journal of Public Health, analisou mais de 9 mil adultos e constatou que atividades artísticas regulares estão associadas à melhora da saúde mental, da cognição e do sono. Mas está havendo a troca do prazer da descoberta pelo peso da performance. 

 


Para o novo mundo, brincar é perda de tempo, e toda alegria precisa de planilha no excel. Mas não existe saúde mental onde não há espaço para o ócio, para o prazer sem justificativa. Nem toda leitura precisa ensinar. Nem toda arte precisa viralizar. Nem toda ideia precisa virar negócio. Em tempos de culto à produtividade, resistir pode ser simplesmente fazer algo só por gostar.