O banquete dos super-ricos

Enquanto políticas sociais aliviam a base, o topo dispara com ganhos superiores ao PIB (Produto Interno Bruto) chinês, que gira em torno de 6% a 6,5% ao ano. A taxação de lucros e dividendos e o combate à pejotização artificial são cruciais para romper a engrenagem que mantém 0,1% controlando a riqueza de um país inteiro. 

Por Camilly Oliveira

O Brasil aprofunda a desigualdade estrutural histórica. Entre 2017 e 2023, o 0,1% mais rico, cerca de apenas 160 mil pessoas, concentrou 85% do crescimento da renda, segundo estudo do grupo FiscalData, e cresceu 7,9% ao ano, no período. Hoje, o grupo abocanha 12,5% de toda a renda nacional, mais do que os 50% mais pobres, que ficam com apenas 10%. A distorção revela um país que sustenta rentistas enquanto milhões sobrevivem com menos que um salário mínimo.

 


O privilégio se concentra nos lucros e dividendos isentos, responsáveis por 66% da alta da renda deste topo da pirâmide. Os super-ricos acumulam, em média, R$ 516 mil por mês sem pagar imposto sobre este rendimento. Não é esforço de trabalho, mas o aproveitamento de um sistema feito para blindar quem já possui patrimônio.

 


Outro motor da desigualdade é a pejotização, que avança como estratégia das elites para não pagar impostos. Médicos, advogados e executivos de alto escalão transformam salários em “notas fiscais”, pagando alíquotas muito menores do que pagariam como pessoa física. A prática corrói a base de arrecadação, agrava a regressividade e legitima um sistema em que os mais pobres bancam o bem-estar tributário dos mais abastados.

 


Enquanto políticas sociais aliviam a base, o topo dispara com ganhos superiores ao PIB (Produto Interno Bruto) chinês, que gira em torno de 6% a 6,5% ao ano. A taxação de lucros e dividendos e o combate à pejotização artificial são cruciais para romper a engrenagem que mantém 0,1% controlando a riqueza de um país inteiro.