Na meta, até a saúde vai para o ralo

Durante décadas, a saúde no ambiente corporativo foi tratada de forma superficial e burocrática. Atestado médico na mesa, afastamento registrado e o problema “resolvido”. Este modelo frio, reativo e desumanizante pode até servir aos interesses da lógica empresarial imediatista, mas não serve aos trabalhadores. E definitivamente não sustenta uma organização saudável, nem socialmente justa.

Por Julia Portela

Durante décadas, a saúde no ambiente corporativo foi tratada de forma superficial e burocrática. Atestado médico na mesa, afastamento registrado e o problema “resolvido”. Este modelo frio, reativo e desumanizante pode até servir aos interesses da lógica empresarial imediatista, mas não serve aos trabalhadores. E definitivamente não sustenta uma organização saudável, nem socialmente justa.

 


Segundo a OIT (Organização Internacional do Trabalho) e a FGV (Fundação Getúlio Vargas), uma taxa de absenteísmo (faltas recorrentes por motivo de saúde) acima de 4% já é considerada alarmante. Este índice reflete o esgotamento que se acumula quando a pressão é constante e os cuidados com o trabalhador são tratados como “custo”.

 


Mas tão grave quanto o absenteísmo é o presenteísmo, o cenário em que o trabalhador vai trabalhar mesmo sem condições físicas ou emocionais para estar ali. Pode parecer “eficiência” à primeira vista, mas na prática, trata-se de uma forma silenciosa de sofrimento. Pesquisas da Harvard Business Review revelam que o presenteísmo custa até três vezes mais às empresas do que o absenteísmo, por seu impacto crônico e disfarçado nos resultados.

 


Essa lógica produtivista, típica do ultraliberalismo que trata o trabalhador como engrenagem descartável, precisa ser denunciada e enfrentada. A saúde do trabalhador deve ser pensada com profundidade, com ações preventivas e acompanhamento real, não como planilha ou “indicador de RH”. Olhar para a saúde no trabalho é olhar para o ser humano por trás da função. É entender que produtividade não pode ser arrancada à força, mas construída com dignidade, condições reais e respeito.