Ultraliberalismo transforma o corpo em produto de consumo
A explosão de procedimentos estéticos, o culto aos corpos irreais nas redes sociais e o consumo desenfreado de medicamentos para emagrecimento mostram como a indústria da beleza se transformou em um dos braços mais lucrativos do capitalismo.
Por Júlia Portela
A explosão de procedimentos estéticos, o culto aos corpos irreais nas redes sociais e o consumo desenfreado de medicamentos para emagrecimento revelam mais que uma tendência do século 21: expõem a indústria da beleza como um dos braços mais lucrativos do capitalismo moderno. Aceitar-se como se é não gera lucro e por isso, a insatisfação é vendida como estilo de vida.
Enquanto discursos sobre “autoestima” e “autocuidado” são embalados em campanhas publicitárias e perfis de influenciadores digitais, cresce no Brasil uma verdadeira epidemia de transtornos ligados à imagem. O mercado da estética fatura alto em cima da insegurança alheia. Só em 2025, o setor movimentou R$ 48 bilhões, segundo a Grand View Research. O Brasil ocupa hoje a quarta posição no ranking global do setor, atrás apenas de Estados Unidos, China e Japão.
A naturalização das intervenções estéticas, muitas vezes incentivadas como “investimentos em si mesmo”, escancara a lógica perversa da mercantilização do corpo. A Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica estima que mais de 1,5 milhão de procedimentos são realizados anualmente no país. Por trás de cada número, há uma pressão constante para seguir padrões inalcançáveis que adoecem física e mentalmente.
Essa busca incessante por “correções” reforça estigmas, acentua desigualdades e ignora os determinantes sociais da saúde mental. A estética virou mercado e a autoestima, produto de prateleira. Nessa lógica, a indústria não quer que ninguém se aceite de fato, quer consumidores eternamente insatisfeitos, prontos para o próximo procedimento.