O capitalismo de plataforma e a superexploração

O Brasil se tornou um terreno fértil para esta força de trabalho precária, sobretudo para a produção de inteligência artificial, que tem dominado e modificado o mundo do trabalho.

Por Ana Beatriz Leal

A face cruel do capitalismo fica mais agressiva à medida que a tecnologia se sofistica. A superexploração é marca registrada de um sistema que desprotege o trabalhador e adoece. O chamado microtrabalho é a realidade de muitos brasileiros, que ganham centavos para realizar tarefas digitais repetitivas, como classificar imagens, transcrever áudios curtos ou moderar conteúdos.

 


O Brasil se tornou um terreno fértil para esta força de trabalho precária, sobretudo para a produção de inteligência artificial, que tem dominado e modificado o mundo do trabalho. Especialistas afirmam que cerca de 80% do tempo de um projeto de machine learning (aprendizado de máquina) é destinado para este tipo de tarefa “invisível”, fora dos holofotes e do guarda-chuva dos direitos trabalhistas.

 


Para exemplificar, uma trabalhadora brasileira foi contratada para fotografar fezes do cachorro em casa. O material seria usado para treinar robôs aspiradores a identificar sujeiras. Ela recebeu menos de R$ 0,15 por cada uma das 250 fotos. Um absurdo. 

 


No Brasil, a remuneração média não passa de R$ 600,00 mensais. Além do valor baixo e da falta de proteção trabalhista, o isolamento e a repetição de tarefas podem desencadear crises de ansiedade, perda de sentido no trabalho e instabilidade financeira. A situação se agrava entre as pessoas que atuam na moderação de conteúdos violentos e pornográficos. 

 


A lógica global de desigualdade também é outro fator de destaque. Para uma mesma tarefa, um trabalhador brasileiro ganha US$ 3,50 por hora, enquanto um holandês US$ 12,50 e um filipino US$ 0,80.