Pais presentes, mães protegidas
Quase sete em cada dez pais brasileiros não têm acesso a licença paternidade além dos cinco dias previstos na legislação, segundo dados do IBGE. Esse tempo, reduzido, é insuficiente diante das demandas reais do período pós-parto e expõe a omissão de grande parte das empresas em reconhecer o cuidado como um dever coletivo.
Por Julia Portela
Quase sete em cada dez pais brasileiros não têm acesso a licença paternidade além dos cinco dias previstos na legislação, segundo dados do IBGE. Esse tempo, reduzido, é insuficiente diante das demandas reais do período pós-parto e expõe a omissão de grande parte das empresas em reconhecer o cuidado como um dever coletivo.
A limitação da licença impacta diretamente a saúde das mães, que enfrentam o puerpério muitas vezes sozinhas. O período, marcado por alterações físicas e emocionais intensas, tende a agravar quadros de ansiedade, depressão e burnout materno quando não há apoio adequado. Enquanto isto, o pai é empurrado de volta ao ambiente de trabalho como se nada tivesse mudado.
A licença paternidade é mais do que um direito trabalhista, é uma questão de saúde pública, de vínculo afetivo e de reparação histórica. Garante não apenas a presença física do pai, mas sua corresponsabilidade no cuidado com o bebê e com a recuperação da mãe. É um passo essencial para a construção de uma cultura de cuidado mais justa e equilibrada.
Negar este direito é reforçar a lógica excludente do mercado, que desumaniza o trabalhador e transfere toda a responsabilidade do cuidado às mulheres. O descanso materno, quando não compartilhado, deixa de ser proteção e passa a ser mais uma forma de sobrecarga. O resultado é um ciclo de adoecimento silencioso, sustentado pela naturalização da ausência paterna.