Litoral contaminado, inimigo invisível

A maior pesquisa já realizada sobre a contaminação por microplásticos no país revelou um cenário alarmante: 709 praias brasileiras, o equivalente a 69% das analisadas, estão poluídas por fragmentos invisíveis de plástico. O levantamento percorreu 7.500 quilômetros de costa, coletando amostras em 1.024 praias que abrangem 90% do litoral nacional, em todos os 17 estados banhados pelo Atlântico.

Por Julia Portela

A maior pesquisa já realizada sobre a contaminação por microplásticos no país revelou um cenário alarmante: 709 praias brasileiras, o equivalente a 69% das analisadas, estão poluídas por fragmentos invisíveis de plástico. O levantamento percorreu 7.500 quilômetros de costa, coletando amostras em 1.024 praias que abrangem 90% do litoral nacional, em todos os 17 estados banhados pelo Atlântico.

 

As análises apontaram uma média de 27 partículas por quilo de areia, revelando que a poluição causada pelo consumo desenfreado e pela falta de responsabilidade ambiental da indústria já atinge níveis críticos. O modelo econômico baseado na exploração e na produção em larga escala transforma o planeta em depósito de resíduos, enquanto grandes corporações seguem lucrando à custa da degradação ambiental e da saúde coletiva.

 

Os microplásticos, embora quase invisíveis, são hoje uma das formas mais perigosas de contaminação. Penetram nos ecossistemas marinhos, alcançam a cadeia alimentar e chegam ao organismo humano. Diferente dos plásticos maiores, esses fragmentos não podem ser retirados com limpeza superficial, são a herança tóxica de um sistema produtivo que trata o meio ambiente como mercadoria descartável.

 

O problema não se resume à limpeza das praias, mas à necessidade de enfrentar a lógica neoliberal que prioriza o lucro acima da vida e da sustentabilidade. O mesmo modelo que precariza o trabalho e privatiza serviços essenciais também destrói os recursos naturais, afetando especialmente as populações mais pobres e as comunidades costeiras.