A distância entre o direito e o diagnóstico
A falta de rastreamento precoce tem consequências fatais. O câncer de mama, quando detectado no início, apresenta 95% de chance de cura, mas a cobertura de mamografias no país é de apenas 24%, segundo o Ministério da Saúde, muito abaixo dos 70% recomendados pela OMS. Garantir a presença do Estado em cada território, com exames, informação e dignidade, é o exercício concreto da democracia.
Por Camilly Oliveira
Outubro Rosa é cobrança. A cor símbolo da prevenção expõe a desigualdade de um país onde nascer longe dos grandes centros pode significar morrer antes do diagnóstico. Segundo o INCA (Instituto Nacional do Câncer), o Brasil registra 73 mil novos casos de câncer de mama por ano, mas menos da metade das mulheres em idade de risco consegue realizar o exame de mamografia regularmente.
O Atlas da Radiologia aponta a existência de 6.826 mamógrafos no país, sendo apenas metade disponíveis no SUS (Sistema Único de Saúde) que é responsável por atender 75% da população. Em áreas remotas, o problema é mais profundo: comunidades ribeirinhas, sertanejas, indígenas e quilombolas vivem realidades onde o exame é um luxo distante.
Em regiões do Norte, mulheres percorrem até sete horas de barco para alcançar um hospital com mamógrafo. Enquanto isto, o Acre tem 0,84 aparelho por 100 mil habitantes no SUS, contra 35,38 na rede privada. A desigualdade de acesso desenha um mapa cruel de exclusão e abandono.
A falta de rastreamento precoce tem consequências fatais. O câncer de mama, quando detectado no início, apresenta 95% de chance de cura, mas a cobertura de mamografias no país é de apenas 24%, segundo o Ministério da Saúde, muito abaixo dos 70% recomendados pela OMS. Garantir a presença do Estado em cada território, com exames, informação e dignidade, é o exercício concreto da democracia.