O trabalho nunca termina
A lógica da hiperconexão criou uma nova forma de controle, silenciosa e exaustiva. A OMS (Organização Mundial da Saúde) alerta que jornadas longas aumentam em 35% o risco de AVC (Acidente Vascular Cerebral) e em 17% o de doenças cardíacas.
Por Camilly Oliveira
A promessa de liberdade virou prisão digital, e o home office mostro isto. A ideia de autonomia se dissolveu diante da exigência de presença contínua, na qual o “status online” substitui o ponto eletrônico. Empresas confundem conectividade com comprometimento e exploram a invisibilidade do lar como extensão do escritório.
Segundo pesquisa da Owl Labs, 55% dos profissionais remotos afirmam trabalhar mais horas do que quando atuavam presencialmente, e um levantamento da Microsoft aponta que o volume de reuniões virtuais cresceu 252% de 2020 até 2025, retrato da sobrecarga disfarçada de produtividade.
A lógica da hiperconexão criou uma nova forma de controle, silenciosa e exaustiva. A OMS (Organização Mundial da Saúde) alerta que jornadas longas aumentam em 35% o risco de AVC (Acidente Vascular Cerebral) e em 17% o de doenças cardíacas.
Um estudo da plataforma Buffer mostra que 81% dos trabalhadores remotos respondem mensagens fora do expediente, 63% inclusive nos fins de semana. É uma violação cotidiana do direito à desconexão. O corpo e a mente se tornam território ocupado por notificações, e a culpa por “não estar disponível” destrói a saúde mental com a mesma força que o esgotamento físico.
A naturalização da disponibilidade permanente revela o quanto o capital digital incorporou a vigilância como método de gestão. Enquanto as empresas acumulam ganhos de produtividade, os trabalhadores perdem o tempo, o sono e a sanidade.
O que se vendeu como flexibilidade virou sobreposição entre vida e trabalho, sem fronteiras nem descanso. A verdadeira revolução do home office não será tecnológica, mas ética, de que só haverá equilíbrio quando o direito ao tempo livre voltar a ser reconhecido como parte do trabalho.
