Combate ao crime, arma do imperialismo
A história latino-americana oferece exemplos claros de como este tipo de medida nunca é neutra de verdade. Quando os EUA cunharam o termo “narcoterrorismo”, criaram uma justificativa para ações militares fora de suas fronteiras e para o domínio econômico sobre países considerados “ameaças”. Se o Brasil seguir este caminho, abre o precedente para que Washington o trate como um Estado incapaz de conter o que chamam de “terrorismo doméstico”.
Por Camilly Oliveira
A tentativa de equiparar facções criminosas a organizações terroristas ameaça redesenhar os limites da soberania brasileira. Com o pretexto de “endurecer o combate ao crime”, pode ser aberta uma brecha perigosa para interferências externas - Estados Unidos - se valem do rótulo de terrorismo para justificar invasões em nações soberanas.
A história latino-americana oferece exemplos claros de como este tipo de medida nunca é neutra de verdade. Quando os EUA cunharam o termo “narcoterrorismo”, criaram uma justificativa para ações militares fora de suas fronteiras e para o domínio econômico sobre países considerados “ameaças”. Se o Brasil seguir este caminho, abre o precedente para que Washington o trate como um Estado incapaz de conter o que chamam de “terrorismo doméstico”.
O resultado seria previsível: sanções, espionagem disfarçada de cooperação e presença de agentes estrangeiros operando sob a bandeira da “segurança internacional”. Além disto, declarar facções como terroristas colocaria o país sob vigilância financeira global. Bancos, empresas e fundos de investimento, mesmo sem culpa comprovada, poderiam ser atingidos por sanções unilaterais, bastando uma simples citação em investigações.
A proposta, cujo relator é Nikolas Ferreira (PL/MG), é mais do que um equívoco técnico, mas armadilha geopolítica. Ao confundir crime organizado com terrorismo, dilui a soberania e se entrega a política de segurança nacional a interesses que não são os do povo brasileiro. Transformar o inimigo interno em terrorista é abrir as portas para que o inimigo externo assuma o comando.
