A desigualdade racial na Caixa

Um banco que executa as políticas sociais fundamentais pela redução da própria desigualdade não pode reproduzir o mesmo modelo que historicamente negou oportunidades à população negra.

Por Camilly Oliveira

Novembro, mês da Consciência Negra, escancara uma contradição que o Brasil não pode aceitar: a de um banco público responsável pelas principais políticas sociais do país, que ainda mantém brechas profundas de desigualdade racial. 

 


A Caixa, símbolo do Estado que chega onde o mercado não chega, aparece nos levantamentos da Rais (Relação Anual de Informações Sociais) e do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) como prova de que o racismo estrutural continua a operar dentro da própria máquina pública. 

 


O estudo do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) desmonta qualquer discurso de inclusão automática: os espaços de decisão seguem restritos e distantes da realidade do povo que o banco atende.

 


Entre os empregados, 68,5% são brancos, 3,8% são pretos e 23,4% pardos. Nas faixas salariais superiores, a distância aumenta: brancos somam mais de 72% dos que recebem entre 10 e 20 salários mínimos e mais de 74% dos que ultrapassam 20 salários. 

 


Mesmo com o avanço nas contratações, 529 trabalhadores pretos e 2.325 pardos entre 2020 e 2025, o Caged demonstra que a desigualdade salarial se mantém intacta. As remunerações comprovam a disparidade: homens negros recebem R$ 4.229,37 enquanto homens brancos chegam a R$ 5.563,38; mulheres negras recebem R$ 3.895,45, contra R$ 5.384,96 das brancas. 

 


Ou seja, ampliar o quadro não altera o topo da pirâmide quando os caminhos de progressão continuam travados para quem sustenta a diversidade real do país. Não basta o discurso, são necessárias políticas afirmativas sérias, metas de promoção racial e de gênero, formação que garanta trajetória sólida e transparência total sobre carreira e remuneração. 

 


Um banco que executa as políticas sociais fundamentais pela redução da própria desigualdade não pode reproduzir o mesmo modelo que historicamente negou oportunidades à população negra.