Virada contra desigualdade
O alívio no bolso dos trabalhadores, como os quase R$ 4 mil anuais economizados por quem recebe R$ 4.800, não é favor, é reparação. Quando esse dinheiro volta para o consumo e fortalece a economia real, reafirma-se que desenvolvimento não nasce de austeridade, e sim de renda circulando entre quem produz e movimenta o país.
Por Julia Portela
A ampliação da isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil escancara a mudança de rota que o Brasil voltará a trilhar: o Estado deixa de punir quem trabalha e passa a cobrar quem sempre viveu de privilégios. O avanço ocorre após anos em que políticas ultraliberais asfixiaram o salário e blindaram a elite econômica, aprofundando desigualdades que sustentam a concentração absurda de renda no topo.
A taxação dos super-ricos, cerca de 140 mil brasileiros que acumulam fortunas às custas de um sistema que sempre protegeu os mesmos, rompe com o acordo tácito que historicamente isentou quem tem mais. A contribuição de 10% sobre essas altas rendas não é apenas arrecadação: é enfrentamento ao poder econômico que tenta ditar os rumos do país conforme seus próprios interesses.
Os números revelam o tamanho da distorção. Enquanto o 1% mais rico concentra 63% de toda a riqueza nacional, metade da população fica com apenas 2%. Esse abismo não é obra do acaso, mas consequência direta de um modelo que empurra o peso dos impostos para a base e entrega benefícios fiscais ao topo. Alterar essa lógica é condição essencial para qualquer projeto que pretenda reconstruir direitos.
O alívio no bolso dos trabalhadores, como os quase R$ 4 mil anuais economizados por quem recebe R$ 4.800, não é favor, é reparação. Quando esse dinheiro volta para o consumo e fortalece a economia real, reafirma-se que desenvolvimento não nasce de austeridade, e sim de renda circulando entre quem produz e movimenta o país.
As mudanças apontam para um confronto inevitável: ou o Brasil continua refém da elite financeira que sempre governou para si, ou avança rumo a um sistema tributário que faça quem pode mais, pagar mais. E isso, finalmente, começa a sair do papel.
