A conta da precarização chegou

Após anos de várzea, contratos frágeis e direitos desmontados pela reforma trabalhista de 2017, diversos setores agora sofrem com a dificuldade de contratar e reter profissionais. O problema não nasce da “falta de mão de obra”, como repete o empresariado, mas do desgaste provocado por um modelo que barateou demissões, incentivou rotatividade e esvaziou qualquer perspectiva de carreira.

Por Camilly Oliveira

A queda do desemprego para 5,4% em outubro, o menor índice da série do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), confirma a retomada de um país que volta a gerar renda com salários médios alcançando R$ 3.528, alta de 5% em 2024.

 


Após anos de várzea, contratos frágeis e direitos desmontados pela reforma trabalhista de 2017, diversos setores agora sofrem com a dificuldade de contratar e reter profissionais. O problema não nasce da “falta de mão de obra”, como repete o empresariado, mas do desgaste provocado por um modelo que barateou demissões, incentivou rotatividade e esvaziou qualquer perspectiva de carreira.

 


Com o mercado aquecido e mais opções de trabalho decente, a gen z rejeita vagas que impõem jornadas exaustivas, como a escala 6x1, pagam salários baixos e não oferecem futuro. Quando o desemprego caí, o trabalhador recupera poder de escolha. A nova corrida por contratações inclui ofertas de duas folgas, telemedicina, academia, bônus e até campanhas com influenciadores, sinais de que o velho modelo pode ruir.

 


A recomposição do mercado exige revisão estruturante: fortalecimento dos direitos desmontados, retorno de negociações coletivas efetivas, valorização salarial em áreas que movem a economia e políticas de qualificação profissional. Desenvolvimento real só existe quando empresas reconhecem que estabilidade, renda e dignidade constroem produtividade. O Brasil começa a superar o período de precarização extrema, resta ao setor empresarial compreender que trabalho decente não é custo.