Bets: lucro sobre a miséria
Mais de 30 milhões de brasileiros com 10 anos ou mais já realizaram algum tipo de aposta online, segundo pesquisa do Cetic.br.
Por Julia Portela
Mais de 30 milhões de brasileiros com 10 anos ou mais já realizaram algum tipo de aposta online, segundo pesquisa do Cetic.br (Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação), apresentada hoje (09/12).
O dado revela a expansão acelerada de uma prática que avança sem controle e atinge em cheio a população trabalhadora, impulsionada pela publicidade agressiva e pela facilitação do acesso, que está na palma da mão.
O cenário expressa uma grave disfunção social, alimentada pela lógica do lucro rápido e pela ausência de regulação efetiva. Segundo o levantamento TIC Domicílios 2025, quase um em cada cinco usuários de internet no Brasil já fez aposta online, com maior incidência entre homens (25%) do que entre mulheres (14%), aprofundando desigualdades e expondo milhões a um ciclo de endividamento e adoecimento.
Os impactos sociais são devastadores. Estudo do Ieps (Instituto de Estudos para Políticas de Saúde) estima que os danos associados a apostas e jogos de azar geram um custo social de R$ 38,8 bilhões por ano. Deste total, R$ 17 bilhões estão relacionados a mortes por suicídio, R$ 10,4 bilhões à perda de qualidade de vida decorrente da depressão e R$ 3 bilhões a gastos com tratamentos médicos ligados à saúde mental.
Este peso recai com mais força sobre a classe trabalhadora, empurrada para as apostas pela falsa promessa de dinheiro fácil. A propaganda disfarçada de relatos “espontâneos” vende a ideia de solução imediata para a falta de renda, enquanto aprofunda o ciclo de pobreza, endividamento e exploração. O avanço descontrolado das chamadas “bets” escancara a necessidade urgente de regulação rígida e políticas públicas que protejam a população do lucro sobre o desespero.
