O jogo dos tronos brasileiro
No Brasil, os mandatos de deputados e senadores parecem bens de família. No Senado, 67% das cadeiras são ocupadas por herdeiros políticos, conforme aponta levantamento do Intercept em parceria com a plataforma 72h. Cenário semelhante na Câmara, 30% dos deputados são de famílias que há anos estão lá, aponta estudo do Instituto Millenium.
Por Camilly Oliveira
No Brasil, os mandatos de deputados e senadores parecem bens de família. No Senado, 67% das cadeiras são ocupadas por herdeiros políticos, conforme aponta levantamento do Intercept em parceria com a plataforma 72h. Cenário semelhante na Câmara, 30% dos deputados são de famílias que há anos estão lá, aponta estudo do Instituto Millenium.
Em São Paulo, Paraíba e Piauí, 100% dos senadores eleitos são de famílias políticas. Os exemplos são muitos. O caso mais escandaloso vem de Minas Gerais. A família Andrada mantém uma cadeira no Congresso Nacional desde o Brasil Império, há 200 anos. O atual representante é o deputado federal, federal Lafayette.
A lógica é a mesma. Nomes antigos, cadeiras cativas e uma política que gira em torno de heranças, não de projetos. O resultado é um parlamento envelhecido, burocrático e blindado, onde os de cima estão sempre protegidos.
As campanhas são outro fator que escancaram o desequilíbrio do jogo político, impulsionadas por apoios poderosos e alianças construídas ao redor do próprio clã. Frente a esse cenário, qualquer candidatura popular fica no chinelo. O jogo dos tronos sempre foi desleal. Não há disputa real quando o nome já nasce vencedor e a urna vira mera formalidade.
O povo vota no sobrenome, embalado em slogans que prometem um futuro que nunca chega, e o Congresso, que deveria representar o país, espelha o mesmo Brasil de séculos atrás, excludente, racista e patriarcal.