Agro recebe 73% da verba climática

Embora os gastos com adaptação tenham crescido nos últimos anos, a concentração no agronegócio reforça a dependência de um setor que também contribui para problemas climáticos, como pressão sobre o uso da terra e vulnerabilidade às chuvas irregulares.

Por Itana Oliveira

Um levantamento do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), com o Ministério do Planejamento, mostra que 73% da verba federal para adaptação climática vai para o agronegócio. Esse recurso concentra-se em indenizações e ações que aliviam perdas do setor, enquanto áreas essenciais para proteger cidades, rios e ecossistemas recebem bem menos: 13% para recursos hídricos, 7% para biodiversidade e 6% para gestão de desastres.

 

O estudo afirma que o orçamento reage mais aos prejuízos agrícolas do que aos riscos estruturais do clima, deixando de lado medidas como drenagem urbana, conservação de bacias, proteção de solos e prevenção de enchentes e secas. Assim, a adaptação se limita a amortecer impactos para um setor específico, sem aumentar a segurança de populações e territórios frente a eventos extremos.

 

Embora os gastos com adaptação tenham crescido nos últimos anos, a concentração no agronegócio reforça a dependência de um setor que também contribui para problemas climáticos, como pressão sobre o uso da terra e vulnerabilidade às chuvas irregulares. Medidas essenciais para prevenir desastres e proteger ecossistemas continuam subfinanciadas.

 

Especialistas apontam que, mesmo com o aumento recente de recursos, o volume ainda é insuficiente. O crescimento das indenizações do Proagro indica que o país reage aos impactos em vez de preveni-los. O desafio é equilibrar o orçamento de adaptação para proteger não apenas o agronegócio, mas toda a população, os ecossistemas e a infraestrutura frente ao clima extremo.