Contra o neocapitalismo alimentar
A invasão dos ultraprocessados no Brasil nasceu do avanço de um neocapitalismo que transforma comida em produto barato, viciante e lucrativo. A nova pesquisa do Idec (Instituto de Defesa de Consumidores) mostra o conflito: proibir a venda de ultraprocessados e bebidas ricas em açucar em escolas reduziria em 13% a obesidade entre jovens de 10 a 19 anos, segundo dados da POF 2017–2018 do IBGE.
Por Camilly Oliveira
A invasão dos ultraprocessados no Brasil nasceu do avanço de um neocapitalismo que transforma comida em produto barato, viciante e lucrativo. A nova pesquisa do Idec (Instituto de Defesa de Consumidores) mostra o conflito: proibir a venda de ultraprocessados e bebidas ricas em açucar em escolas reduziria em 13% a obesidade entre jovens de 10 a 19 anos, segundo dados da POF 2017–2018 do IBGE.
A simulação indica queda de 25% no consumo de bebidas adoçadas, diminuição de 8% nos ultraprocessados e aumento de até 8% na ingestão de água, frutas e sucos naturais.
Os números desmontam a narrativa da indústria de que a substituição dos ultraprocessados por alimentos naturais reduz até 20 kcal e 6 gramas de açúcares livres por dia, sem perda nutricional. Pesquisas internacionais reforçam o impacto: Rosettie (2018) registrou reduções entre 14,5% e 26,5% no consumo de bebidas adoçadas em escolas dos EUA, enquanto Micha (2018) aponta média de 5,1 g a menos de lanches ultraprocessados após restrições.
O Brasil pode alcançar 20,39 milhões de jovens obesos até 2035, segundo o Atlas 2024 da World Obesity Federation. O governo já deu sinais de enfrentamento ao reduzir de 20% para 15% o limite de ultraprocessados no PNAE (Programa Nacional de Alimentação Escolar) e ao publicar o Decreto 11.821/2023. Estudos da Fiocruz confirmam que cidades com leis restritivas têm melhor pontuação no Índice de Saudabilidade, mostrando que a proteção alimentar funciona.
A disputa agora está no Congresso. O PL 4501/2020 propõe três opções diárias de lanches saudáveis e proíbe venda e publicidade de ultraprocessados nas escolas. A essência do debate é política de que ou o país enfrenta um modelo econômico que lucra com doenças crônicas desde a infância, ou normaliza uma epidemia anunciada. Reduzir 13% da obesidade juvenil é apenas a porta de entrada para algo maior.
