Riqueza com porta fechada
Dentro deste “teatro da desigualdade”, a figura da elite negra aparece como exceção moldada pela resistência, nunca pelo reconhecimento pleno. A ascensão de poucos não altera o desenho da estrutura, porque o topo permanece racialmente controlado e exige, de quem tenta atravessar suas portas, um constante teste de legitimidade.
Por Camilly Oliveira
As estimativas da PNADC (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua) revelam que mulheres negras seguem no patamar mais baixo da renda nacional, com pouco mais de R$ 20 mil anuais, metade da média geral e um terço do rendimento dos homens brancos, que ultrapassam R$ 60 mil.
O abismo mostra um país que coloca as mulheres negras como força crucial da economia e, ao mesmo tempo, empurra para os limites da cidadania. Representam 39,8% da renda dos 10% mais pobres, mas apenas 9,4% da renda dos 10% mais ricos, um retrato cruel da hierarquia que organiza a riqueza.
Dentro deste “teatro da desigualdade”, a figura da elite negra aparece como exceção moldada pela resistência, nunca pelo reconhecimento pleno. A ascensão de poucos não altera o desenho da estrutura, porque o topo permanece racialmente controlado e exige, de quem tenta atravessar suas portas, um constante teste de legitimidade.
Transitar nestes ambientes significa enfrentar o mesmo racismo que opera nas escolas, aeroportos, shoppings e nas universidades, apenas disfarçados agora por etiquetas sociais mais sofisticadas. Nenhum acessório, diploma, cargo ou código de vestimenta neutraliza a cor da pele.
São inúmeras as tentativas de embranquecimento, tratamentos condicionados a aparência, silêncios calculados que expõem a recusa em admitir igualdade. A completa ausência de negros entre os super-ricos brasileiros demonstra que o problema não está restrito a um grupo, mas vinculado à própria estrutura dorsal da sociedade.
