Analfabetismo é projeto de exclusão

O analfabetismo não é problema individual, mas projeto de exclusão que adoece a democracia. Sem leitura, não há voto consciente. Sem educação, não há cidadania plena. Alfabetizar adultos e garantir ensino público de qualidade desde a infância é obrigação do Estado e romper este ciclo é questão de justiça social. 

Por Camilly Oliveira

Em um país que se diz democrático, mais de 9 milhões de pessoas sem acesso à leitura e à escrita não são número, mas denúncia. O analfabetismo escancara a herança de um projeto de país que sempre tratou educação como privilégio de poucos. Mesmo com a taxa caindo para 5,3% entre os maiores de 15 anos, ainda é uma massa inteira jogada à margem dos direitos mais básicos.

 

 

De 2016 a 2024, diminuiu de 6,7% para 5,3%. Só entre 2023 e 2024, quase 200 mil pessoas deixaram de compor esta estatística. O Nordeste concentra mais da metade dos analfabetos, entre negros com mais de 60 anos, o índice chega a 21,8%, contra 8,1% entre brancos. Não é coincidência, mas o retrato da desigualdade empurrada por séculos de exclusão.

 

 

O país até avançou, com mais pessoas concluindo o ensino médio, a média de escolaridade subiu e o acesso ao ensino superior cresceu, mas a base segue frágil. Crianças fora da creche, adolescentes abandonando a escola para trabalhar e jovens sem acesso à educação digna. O sistema expulsa os mais pobres e depois cobra produtividade.

 

 

O analfabetismo não é problema individual, mas projeto de exclusão que adoece a democracia. Sem leitura, não há voto consciente. Sem educação, não há cidadania plena. Alfabetizar adultos e garantir ensino público de qualidade desde a infância é obrigação do Estado e romper este ciclo é questão de justiça social.