A epidemia das bets 

No Brasil, as apostas online viraram uma verdadeira epidemia. Os brasileiros gastaram até R$ 30 bilhões por mês entre janeiro e março deste ano. A cifra escandalosa acendeu um alerta em relação aos efeitos sociais, sobretudo para os trabalhadores da classe baixa. 

Por Ana Beatriz Leal

A lógica da sociedade capitalista, baseada no lucro, na exploração e na produtividade, leva o cidadão a uma correria desenfreada para atender às expectativas sociais e econômicas. Mas, em um país tão desigual, é impossível. O ponto de partida não é o mesmo para todos. Uma das ilusões para obter dinheiro “fácil e rápido” são as bets, que dão a falsa ideia de ascensão financeira de forma meteórica. 
 

No Brasil, as apostas online viraram uma verdadeira epidemia. Os brasileiros gastaram até R$ 30 bilhões por mês entre janeiro e março deste ano. A cifra escandalosa acendeu um alerta em relação aos efeitos sociais, sobretudo para os trabalhadores da classe baixa. 
 

O Banco Central revelou que R$ 3 bilhões dos R$ 14,1 bilhões pagos pelo Bolsa Família em agosto passado foram utilizados em apostas. Segundo pesquisa do Datafolha de 2024, mais de 32 milhões de cidadãos já apostaram em plataformas digitais. Os impactos negativos são predominantes entre jovens, homens e trabalhadores das classes C, D e E, que representam 62% do público mais afetado.
 

Para além das finanças, já que apostadores tiram o dinheiro das despesas básicas para perder nas apostas, as bets impactam também a saúde mental. Pesquisas realizadas em diferentes países mostram mais de 15% de tentativas de suicídio entre pessoas viciadas em jogos. 
 

O controle do vício tem se tornado um desafio, especialmente porque em muitos países já há a regulamentação das apostas. No Brasil, o apelo é forte e vem de campanhas publicitárias, celebridades e influenciadores digitais que fazem a cabeça dos usuários para caírem nas garras do “tigrinho”. A dependência em jogos foi oficialmente reconhecida como transtorno psiquiátrico pela Sociedade Americana de Psiquiatria em 2013.
 

Diante dos efeitos do vício em apostas digitais, é imperioso que a regulação do setor inclua medidas de saúde pública e não se limite à arrecadação.