Deserto alimentar, lucro garantido
O projeto é de morte silenciosa, sustentado por um sistema que não reconhece o alimento como direito, mas como mercadoria. E o pior: os desertos alimentares não são um acaso urbano.
Por Julia Portela
Comprar comida saudável perto de casa se tornou um privilégio, e não um direito garantido. Em 15 capitais brasileiras, ao menos 25% da população vivem em desertos alimentares, locais onde o acesso a frutas, verduras e alimentos naturais é escasso ou inexistente. Os dados são do Ministério do Desenvolvimento Social, divulgados pela Folha de S.Paulo.
O que sobra nas prateleiras são os ultraprocessados, baratos, viciantes, pobres em nutrientes e ricos em aditivos que adoecem. A oferta de alimentos saudáveis é mínima, cara e, em muitos bairros periféricos, simplesmente inexiste.
Enquanto isso, a desnutrição cresce, mesmo com barrigas cheias de calorias vazias. Nas grandes cidades, o cenário é mais brutal: o capitalismo consome o tempo das pessoas e a rotina de jornadas exaustivas empurra as famílias para uma alimentação rápida, industrializada e destrutiva, a chamada “vida fast food”.
O projeto é de morte silenciosa, sustentado por um sistema que não reconhece o alimento como direito, mas como mercadoria. E o pior: os desertos alimentares não são um acaso urbano. São fruto direto da desigualdade social, da especulação imobiliária, do desmonte das feiras livres, da falta de incentivo à agricultura familiar e do abandono das políticas públicas de abastecimento popular.
Quem vive nas periferias sabe: é mais fácil encontrar uma garrafa de refrigerante do que um pé de alface. A fome no Brasil mudou de rosto, mas segue sendo a expressão mais cruel da desigualdade. E, mais uma vez, é o povo pobre quem paga essa conta.