Sob o falso argumento de modernização, bancos excluem

O caso da cidade, com cerca de 60 mil habitantes, não é isolado. O fechamento de unidades bancárias se intensifica em todo o Brasil.

Por Rose Lima

Os moradores de Cruz das Almas, no Recôncavo da Bahia, começaram o dia, ontem, com uma ausência sentida. A única agência do Itaú no município fechou as portas, definitivamente. A partir de agora, mais de 7 mil clientes terão de se deslocar cerca de 40 quilômetros até Santo Antônio de Jesus para realizar operações simples, uma jornada que inclui enfrentar estrada perigosa e, muitas vezes, imprevisível.

 


O caso da cidade, com cerca de 60 mil habitantes, não é isolado. O fechamento de unidades bancárias se intensifica em todo o Brasil. Só no ano passado, os bancos privados encerraram 856 unidades no país, segundo o Banco Central. Em uma década, o total de agências fechadas chega a 7.200.

 


Apenas este ano o Itaú já fechou 227 unidades como parte de uma estratégia que mistura modernização tecnológica e corte de custos, com demissões e redução de estrutura física.

 


A política do sistema financeiro de fechar agências, representa exclusão, insegurança e retrocesso para populações do interior, especialmente as mais vulneráveis. Em Cruz das Almas, idosos, comerciantes e agricultores perdem o acesso a um serviço essencial. E a digitalização, que deveria incluir, tem feito o oposto.

 


O secretário estadual do Trabalho, Emprego, Renda e Esporte, Augusto Vasconcelos, critica duramente a política. “Os bancos prestam um desserviço ao país. Os clientes sentem o impacto e os bancários sofrem com as demissões”. Augusto, que também já presidiu o Sindicato dos Bancários da Bahia, lembra que as consequências não são apenas para os usuários, mas para toda a cadeia econômica. A presença de uma agência movimenta o comércio, cria empregos diretos e indiretos, contribui para a vitalidade do município.

 


A contradição fica ainda mais evidente quando se observa o desempenho da Bahia na economia formal. O estado lidera a geração de empregos no Nordeste em 2025, com a criação de 88.679 novos postos de trabalho entre janeiro e agosto. Apesar do avanço, o setor bancário, um dos mais lucrativos do país, segue na contramão, fechando portas e postos de trabalho.
 

Últimas notícias