Brasil, o quintal das bets
A presença massiva da publicidade das bets nos principais meios, no futebol, Carnaval e redes sociais, contribuiu para naturalizar a atividade, aproximando-a do entretenimento cotidiano. Entre os 20 clubes da Série A do Brasileirão, 18 já ostentam marcas de apostas em suas camisas, e os maiores contratos de patrocínio ultrapassam meio bilhão de reais. O futebol, além de ser o tema mais apostado, tornou-se também o principal veículo de propaganda do setor.
Por Itana Oliveira
O crescimento das empresas de apostas no Brasil expõe um modelo de negócios extremamente lucrativo para as empresas e tremendamente prejudicial à sociedade. Para este ano, a previsão é que estas plataformas faturem mais de R$ 22 bilhões no país, segundo a Regulus Partners, consultora de esportes, posicionando o Brasil como o quinto maior mercado de apostas on-line do mundo.
Somente no primeiro semestre do ano, as 78 empresas autorizadas movimentaram 17,4 bilhões, desempenho impulsionado por um ambiente regulatório que, até ano passado, praticamente não existia, permitindo às operadoras explorar o mercado sem fiscalização ou barreiras significativas.
Durante o período sem regulação, as empresas de apostas aplicaram estratégias baseadas em economia comportamental para aumentar o engajamento dos usuários. As plataformas foram desenvolvidas para reduzir ao máximo qualquer obstáculo à aposta: tudo é acessível, gamificado e pensado para estimular decisões rápidas, muitas vezes impulsivas. Mecanismos como bônus, “missões”, recompensas e design intuitivo transformaram a atividade em experiência recreativa, semelhante a jogos eletrônicos, mas com dinheiro real em risco.
A presença massiva da publicidade das bets nos principais meios, no futebol, Carnaval e redes sociais, contribuiu para naturalizar a atividade, aproximando-a do entretenimento cotidiano. Entre os 20 clubes da Série A do Brasileirão, 18 já ostentam marcas de apostas em suas camisas, e os maiores contratos de patrocínio ultrapassam meio bilhão de reais. O futebol, além de ser o tema mais apostado, tornou-se também o principal veículo de propaganda do setor.
Embora as plataformas vendam a imagem de diversão, os dados demonstram que operam com estruturas pensadas para maximizar lucro, muitas vezes à custa de decisões impulsivas e recorrentes dos usuários. Ao eliminar obstáculos para apostar e associar a prática a momentos de lazer e paixão nacional como o futebol, as empresas criaram um ambiente que favorece o consumo contínuo e levanta preocupações claras sobre a indução ao comportamento de risco financeiro.