Digitalização sem inclusão é exclusão
A justificativa apresentada pela instituição é a suposta “mudança de comportamento dos clientes”, que estariam optando por soluções digitais como Pix, transferências e pagamentos eletrônicos.
Por Julia Portela
O Bradesco anunciou que deixará de emitir cheques para clientes pessoa física e MEIs microempreendedores individuais) a partir de dezembro de 2025. A decisão, comunicada por meio do aplicativo do banco, faz parte de um processo de “descontinuação gradual” do serviço, encerrando décadas de uso deste meio de pagamento popular no país.
A justificativa apresentada pela instituição é a suposta “mudança de comportamento dos clientes”, que estariam optando por soluções digitais como Pix, transferências e pagamentos eletrônicos. No entanto, a decisão representa mais um passo no desmonte dos serviços físicos nas agências bancárias, reduzindo o acesso de milhões de brasileiros que ainda dependem de formas tradicionais de movimentação financeira.
A política do banco segue a lógica de corte de custos e da digitalização forçada, que exclui trabalhadores, aposentados e pessoas com menos acesso a tecnologias digitais. A medida reforça a elitização do atendimento bancário e ignora a função social que uma instituição financeira deve exercer em um país com tamanhas desigualdades.
A extinção enfraquece o vínculo entre o banco e a população que o sustenta. O avanço da digitalização sem inclusão é mais uma face da precarização do sistema financeiro, conduzido por uma lógica de lucro acima da dignidade e do acesso universal.
