O preço das metas: bancários adoecem sob pressão
O que antes era prestígio e estabilidade virou espaço de tensão permanente. A pejotização, o avanço da digitalização e da IA, que reduz equipes e amplia jornadas, elevaram o clima de medo e exaustão. A competição, vendida como motivação, virou combustível para o adoecimento coletivo.
Por Camilly Oliveira
A crise da saúde mental no trabalho é uma realidade que expõe a estrutura desigual do mercado brasileiro. Motoristas de ônibus, gerentes e escriturários de banco, técnicos de enfermagem e vigilantes lideram os afastamentos por transtornos mentais e comportamentais reconhecidos como doença ocupacional.
Só no ano passado foram mais de 470 mil afastamentos por problemas de saúde mental, aumento de 66% em relação ao ano anterior. Os dados são da Smartlab, plataforma do MPT (Ministério Público do Trabalho) e da OIT (Organização Internacional do Trabalho) com base no INSS (Instituto Nacional de Seguro Social).
Entre todas as categorias, o setor bancário é o que mais se destaca, negativamente. As metas sufocantes, pressão e competição transformaram o trabalho em um terreno fértil de desgaste emocional. No caso dos gerentes, 37,76% dos 13 mil afastamentos foram reconhecidos como doença do trabalho, índice mais alto entre todas as profissões. Entre os escriturários, foram mais de 23 mil afastamentos, sendo 18,77% diretamente ligados às condições laborais.
O que antes era prestígio e estabilidade virou espaço de tensão permanente. A pejotização, o avanço da digitalização e da IA, que reduz equipes e amplia jornadas, elevaram o clima de medo e exaustão. A competição, vendida como motivação, virou combustível para o adoecimento coletivo.
As consequências se refletem no sistema previdenciário e nos próprios bancos. O MPT alerta que o problema não é individual, mas estrutural. A ausência de políticas de prevenção, escuta e acompanhamento psicológico mostra o Brasil que ainda trata o sofrimento mental como fraqueza, e não como sintoma social. No espelho do adoecimento, os bancários aparecem como símbolo de uma economia que precisa escolher entre metas que enriquecem poucos e a dignidade de quem faz o sistema funcionar.
