A tragédia social da pandemia
Durante o governo Bolsonaro, o negacionismo custou vidas e destruiu famílias. A ausência de uma coordenação nacional, o atraso na compra de vacinas e a banalização da morte deixaram um rastro profundo.
Por Camilly Oliveira
O Brasil ainda carrega uma das faces mais cruéis da pandemia com 284 mil crianças e adolescentes órfãos de pais, mães ou cuidadores por causa da covid-19. O levantamento, conduzido por pesquisadores do Imperial College London, USP, Oxford e CDC dos Estados Unidos, e publicado na The Lancet Regional Health – Americas, revela uma tragédia social que segue invisível.
Sem uma política nacional de amparo, as crianças foram deixadas à própria sorte, enquanto o país ainda tenta contabilizar o impacto humano de uma crise sanitária marcada por negligência e desinformação.
Durante o governo Bolsonaro, o negacionismo custou vidas e destruiu famílias. A ausência de uma coordenação nacional, o atraso na compra de vacinas e a banalização da morte deixaram um rastro profundo. As mais de 700 mil mortes por Covid-19 se transformaram também em 284 mil histórias de orfãos, 70% delas de crianças que perderam o pai e 160 que perderam ambos os pais. O abandono institucional expôs a desigualdade de sempre: as maiores taxas estão em estados pobres, como Rondônia e Pará, onde a cobertura vacinal foi menor e as condições sociais mais frágeis.
Alguns estados, como o Ceará criou um auxílio de R$ 500,00 para órfãos da Covid, mas o restante do país segue sem resposta. Projetos de lei que propõem indenização e proteção social, como o PL 2.180/2021, estão parados no Congresso.
Entidades de familiares, como a Avico (Associação de Vítimas e Familiares de Vítimas da Covid-19), cobram do Estado reparação moral e material para as crianças, que herdaram não só a dor da perda, mas a omissão de um governo que transformou o caos em política.
