Alimento do capital é floresta

A devastação da Mata Atlântica não é acaso, mas consequência direta de um sistema econômico que privilegia grandes empreendimentos, especulação imobiliária e avanço agropecuário sobre a preservação ambiental.

Por Julia Portela

A Mata Atlântica perdeu 2,4 milhões de hectares de floresta nas últimas quatro décadas, o equivalente a 8,1% de sua área. A destruição, que começou com a colonização e se intensificou ao longo do tempo, segue impulsionada por um modelo econômico que trata a natureza como mercadoria e o lucro como prioridade absoluta.

 


Em 1985, o bioma já havia sido reduzido a apenas 27% de sua cobertura original. Mesmo com a desaceleração recente, a média de destruição nos últimos cinco anos continua alarmante: cerca de 190 mil hectares desmatados, anualmente. Ano passado, quase metade desse desmatamento atingiu florestas maduras, com mais de 40 anos, que concentram a maior parte da biodiversidade, do estoque de carbono e dos serviços ecossistêmicos que garantem o equilíbrio climático.

 


A devastação da Mata Atlântica não é acaso, mas consequência direta de um sistema econômico que privilegia grandes empreendimentos, especulação imobiliária e avanço agropecuário sobre a preservação ambiental. O desmatamento, muitas vezes ilegal, é sustentado por políticas coniventes e por um discurso de “progresso” que ignora a destruição social e ecológica deixada para trás.

 


Enquanto o capital se alimenta da exploração da terra, comunidades perdem território, biodiversidade é extinta e o clima se torna cada vez mais instável. A preservação da Mata Atlântica é mais que uma pauta ambiental: é uma luta pela sobrevivência coletiva, pela soberania dos povos e pelo direito a um futuro que não seja moldado pela ganância.