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O mundo olha para outro lado

Neste artigo, Carlos Pronzato fala sobre Gaza, ajuda humanitária e o mundo em meio ao caos.

Uma flotilha humanitária avança através do Mar Mediterrâneo à procura de um pequeno território do planeta onde hoje acontece um genocídio transmitido em tempo real para o mundo inteiro. Esta caravana marítima, denominada Flotilha Global Sumud (sumud, palavra palestina que significa firmeza ou perseverança constante) é composta de 51 embarcações e ativistas de 44 países, incluindo brasileiros, que tentam chegar a Gaza, na costa Oeste de Israel, fronteira com o Egito, território de 360 km² habitado por 2 milhões de pessoas.

 

Levam alimentos, ajuda humanitária, medicamentos e principalmente a tentativa, bem sucedida inclusive desde antes da partida, graças a uma intensa divulgação nas redes sociais, de colocar um grito estrondoso e planetário que contenha o horror do holocausto palestino em toda a sua dimensão de denúncia ao Estado terrorista de Israel e ao quarto exército mais poderoso do mundo frente à indomável resistência da guerrilha palestina. A flotilha já sofreu diversos ataques por parte de Israel, drones que lançam artefatos incendiários atingiram a estrutura de alguns veleiros.

 

Creio ser este o meu quarto artigo sobre o tema excludente deste século que, até agora, apesar dos belos e sentidos discursos de alguns países, goza da quase total indiferença das nações do mundo, com a cumplicidade explícita do seu principal parceiro, os EUA. Grande parte da população mundial promove todo tipo de protestos, respondendo à repressão com mais protestos nas ruas das grandes metrópoles. Esses intrépidos manifestantes em terra e no mar, como esta flotilha que se dirige a Gaza, são as respostas ao silêncio do mundo institucional, a inexistência de sanções a Israel, apesar da recente e tardia atitude dos que se retiraram do recinto da ONU quando Netanyahu iniciou o seu discurso, na sua infame tentativa de justificar a limpeza étnica em curso.

 

Com quais palavras Sigmund Freud (1856 - 1939), que apenas assistiu o início da Grande Guerra - como denominada pelos soviéticos - descreveria hoje esta aberrante atuação daqueles que sofreram o extermínio de milhões durante a segunda Guerra Mundial, hoje assumindo o papel dos seus antigos carrascos?

 

Desde o início deste novo e mais letal massacre (são inúmeros desde a invasão em 1948) houve mais de 55.104 mortes (16 mil crianças), 127.394 mil feridos, quase 20 mil órfãos e um território devastado. Miguel Viveiros, companheiro brasileiro do audiovisual político e ativista anarquista hoje morando em Barcelona, integrante da flotilha, nos disse: “O mais importante que estamos levando é mostrar que tem gente que está lutando por eles fora de Gaza porque a situação em Gaza é desesperadora e parece que o mundo olha para outro lado”.

 

* Carlos Pronzato é cineasta, diretor teatral, poeta e escritor. Sócio do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia (IGHB). [email protected]