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“Sacar pra quê?”

Mais uma campanha que vem tirando o sossego dos funcionários do Bradesco. Como se não bastassem as metas muitas vezes inalcançáveis, agora o banco exige que seus funcionários liguem para clientes que realizam saques e depósitos em espécie — seja nos caixas eletrônicos, seja nos correspondentes bancários para convencê-los a usar o banco somente por meio eletrônico, (cartão de débito e pix). Isso porque, dentro das próprias agências, o Bradesco já dificulta há anos o atendimento no caixa convencional.

“Sacar pra quê?”

 

Essa é mais uma campanha que vem tirando o sossego dos funcionários do Bradesco. Como se não bastassem as metas muitas vezes inalcançáveis, agora o banco exige que seus funcionários liguem para clientes que realizam saques e depósitos em espécie — seja nos caixas eletrônicos, seja nos correspondentes bancários para convencê-los a usar o banco somente por meio eletrônico, (cartão de débito e pix). Isso porque, dentro das próprias agências, o Bradesco já dificulta há anos o atendimento no caixa convencional.

 

Um histórico de descaso com funcionários e clientes

 

Não é a primeira vez que o banco adota práticas abusivas. Em 2010, o Bradesco iniciou o projeto “Eficiência”. Sem qualquer amparo legal, a orientação informal era para que os funcionários recusassem atendimento nos guichês de caixa, direcionando clientes a correspondentes bancários para depósitos, saques e pagamentos. A justificativa era “trazer mais eficiência” às agências, mas, na prática, o resultado foi redução drástica de funcionários — em algumas unidades sobravam apenas o gerente geral e o administrativo. O desvio de função era evidente e os clientes eram prejudicados.

 

O projeto, apelidado pelos próprios colaboradores de “Deficiência”, rendeu uma enxurrada de reclamações no Banco Central e na ouvidoria. As lideranças, covardemente, não assumiam a responsabilidade e jogavam a culpa nas costas dos gerentes. A perda de clientes e o alto volume de queixas fizeram o projeto desaparecer.

 

Dez anos depois, veio a “inovação” das UNs (Unidades de Negócio). Na prática, significava o fechamento da agência tradicional e o vínculo da retaguarda a uma “agência madrinha”. O resultado foi um verdadeiro caos: clientes que recebiam cheques não conseguiam sacar, quem fazia empréstimos só podia acessar via caixa eletrônico, e depósitos em espécie só nos caixas eletrônicos de 50 em 50 cédulas.

 

Para piorar, o banco extinguiu a segurança física das unidades, retirando vigilantes e portas giratórias, mostrando que a preocupação nunca foi com a integridade dos funcionários, mas apenas em cumprir exigências mínimas da Polícia Federal quando havia tesouraria. Algumas operações e principalmente intervenções nos caixas eletrônicos dependiam do contato com o gerente da “agência madrinha”, que muitas vezes não tinha condições de atender imediatamente, gerando conflitos e atrasos.

 

Já no fim da pandemia, em vez de contribuir para a retomada da normalidade, o Bradesco voltou a atacar: passou a pressionar gestores a reduzir ao máximo as autenticações em caixa. Vídeo conferências com as regionais exibiam agências que não atingiam a meta, constrangendo profissionais e incentivando práticas de assédio. Muitas empresas foram barradas nos guichês, clientes migraram em silêncio para concorrentes e, quando o banco percebeu, já era tarde: o estrago estava feito.

 

O “Sacar pra quê?”

 

Agora, em 2025, o Bradesco reaparece com mais uma campanha desastrosa. Semanalmente, as agências recebem planilhas com todas as transações em dinheiro e os gerentes, inclusive administrativos, são obrigados a ligar para clientes tentando convencê-los a não usar mais saques e depósitos em espécie. Tempo precioso, que poderia ser usado para gerar negócios, é desperdiçado em uma tarefa sem fundamento.

 

Essa política ignora completamente a realidade do país. Em distritos, povoados e cidades pequenas, idosos e pessoas sem familiaridade com tecnologia resistem — e têm o direito de resistir — ao uso exclusivo de meios digitais. A legislação brasileira e as normas do Banco Central garantem ao cliente a liberdade de escolher como movimentar sua conta. Mais ainda: quem paga cestas de serviços tem respaldo para utilizar exatamente os serviços contratados.

 

Na prática, a medida só aumenta a sobrecarga dos funcionários, já pressionados por metas e múltiplas tarefas, enquanto deteriora a qualidade do atendimento bancário.

 

Clientes que se sentirem prejudicados ou coagidos devem formalizar denúncia junto ao Banco Central, basta ligar 145, pois o direito de movimentar sua conta em dinheiro vivo é garantido por lei.

 

* Almir Leal é diretor do Sindicato dos Bancários da Bahia