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Bradesco: lucros bilionários e a aflição de quem faz o banco acontecer

No artigo, Almir Leal fala sobre a gestão gananciosa do Bradesco

O Bradesco, tradicional instituição financeira brasileira fundada em 1943 e conhecida historicamente como o “banco de portas abertas”, vive uma crise silenciosa e profundamente contraditória. Em 2023, ao registrar um lucro líquido de R$ 16,3 bilhões, e observando o resultado dos seus principais concorrentes (Itaú Unibanco: R$ 35,6 bilhões. Banco do Brasil: R$ 35,6 bilhões e Santander Brasil: R$ 9,4 bilhões) o banco iniciou um processo de reestruturação que tem deixado rastros de apreensão, insegurança e colapso interno.
 

 

No fim de 2023, o Bradesco substituiu seu então presidente Octavio de Lazari por Marcelo Noronha, executivo com trajetória sólida dentro da instituição. A mudança de comando veio acompanhada de um pacote de novas diretrizes estratégicas com foco declarado na redução de despesas, recuperação de crédito e foco na alta renda.
 

 

No papel, o movimento parece promissor: um “choque de gestão” necessário após os erros anteriores que culminaram em perdas significativas nas linhas de provisionamento. Mas na prática, os resultados dessa “nova era” têm sido, para muitos, traumáticos.
 

 

Com o movimento batizado internamente de “Change”, o Bradesco tem promovido o fechamento em massa de agências, principalmente em cidades com menos de 30 mil habitantes. Essa decisão, aparentemente tomada sem estudos regionais aprofundados, tem deixado comunidades inteiras desassistidas e causou quedas no fluxo econômico local, já que, em muitas dessas localidades, o Bradesco era o único banco de grande porte presente.
 

 

As agências que resistem ao fechamento estão abarrotadas, com equipes enxutas e clientes insatisfeitos, já que o banco não tem apresentado soluções tecnológicas eficazes para substituir o atendimento físico. Casos como o do Net Empresa, onde clientes PJ enfrentam dificuldades recorrentes até mesmo para ativar o token de segurança, evidenciam o abismo entre o discurso de inovação e a realidade sistêmica do banco.
 

 

O Bradesco, embora ainda lucrativo, sofre com a falta de agilidade digital, especialmente no atendimento a micro e pequenas empresas e aos clientes do varejo tradicional — justamente sua base histórica.
 

 

Enquanto os holofotes estão sobre os balanços financeiros, o drama humano é ignorado. Dentro das agências, o clima é de pânico e desespero. O discurso interno de que “não haverá espaço para todo mundo” vem sendo repetido por gerentes regionais em videoconferências, onde exemplos de “produtividade insuficiente” são exibidos publicamente, criando um ambiente de pressão psicológica e medo constante.
 

 

A palavra “demissão” se tornou corriqueira. Funcionários são desligados sob o argumento de “excesso de contingente”, sem qualquer plano de reaproveitamento de talentos. O banco que já foi referência em desenvolvimento de pessoas, hoje parece desprezar sua própria história de valorização humana.
 

 

A mudança estratégica pode ser necessária. Mas o que se vê no Bradesco é uma transição feita com descaso, impiedade e falta de planejamento sistêmico. O foco em lucro e eficiência operacional parece ter atropelado os pilares de inclusão, capilaridade e compromisso social que fizeram do Bradesco um gigante nacional.
 

 

Enquanto o banco tenta se reinventar, arrisca-se a perder não só clientes, mas também sua identidade e capital humano, que é, no fim das contas, o que sustenta qualquer grande instituição.

 

* Almir Leal é diretor do Sindicato dos Bancários da Bahia