Launder Money e a Faria Lima
No artigo, Carlos Pronzato fala sobre o cérebro do capitalismo mundial.
Assim mesmo, na língua do “Bardo de Avon” (referência à terra natal de Shakespeare, Stratford-upon-Avon, na Inglaterra), língua herdada pelos EUA, cérebro do capitalismo mundial, onde surgiu esta denominação: “lavagem de dinheiro”.
Na década de 20 do século passado, o maior gangster norte-americano, Al Capone (1889 - 1947) ou Scarface (cara da cicatriz), sinônimo de máfia, tinha empresas de lavanderia - como outros mafiosos também tinham -, onde transformava o dinheiro ilícito em lícito, dinheiro vindo de apostas, agiotagem, prostituição e contrabando de bebidas durante a era da Lei Seca (1920 - 1930).
Esse aglomerado de operações do baixo mundo, dos bens e valores obtidos das práticas criminosas, que são integrados no sistema econômico financeiro com a aparência de que são conseguidos de maneira lícita, encobre a real origem desses capitais. Al Capone foi preso em 1931 por evasão fiscal, permanecendo oito anos na cadeia.
Só em 1933 o crime organizado começou a explorar o tráfico de entorpecentes e as lavanderias não foram mais suficientes para a viragem de dinheiro ilícito em lícito. Foi a partir daí que procuraram jurisdições fora do alcance dos EUA e a Suíça foi o principal destino desses capitais sujos e que continua até hoje.
No Brasil, a notícia excludente de dias atrás foi a seguinte: o PCC (Primeiro Comando da Capital, fundado em Taubaté, SP, em 1993) maior organização criminosa do Brasil, usava o setor de combustíveis e as fintechs (plataformas de tecnologia e finanças) para lavagem de dinheiro. Mais de 1.000 postos de dez estados foram utilizados para este fim, movimentando R$ 52 bilhões.
Não precisamos de muita imaginação para saber a quem servem politicamente os donos destes postos, o que nos leva obrigatoriamente à famosa rua Faria Lima, principal centro financeiro do país, o segundo metro quadrado mais caro de São Paulo, baluarte da classe especuladora, a oposta da classe trabalhadora.
O brigadeiro José Vicente Faria Lima (1909 - 1969), foi prefeito da capital de São Paulo entre 1965 e 1969. Durante sua administração, notabilizou-se por diversas obras, entre elas a Marginal Tietê e a Marginal Pinheiros, além de iniciar as obras do Metrô. Após seu falecimento, a avenida Radial Oeste, em construção, recebeu o seu nome.
Quando era piloto da FAB, prestou serviços de transporte na área ocupada pelo Parque do Xingu. Foi um dos seis brancos homenageados no ritual dos mortos ilustres do Quarup, dos povos indígenas do Xingu. Os outros foram o médico e indigenista Noel Nutels e os irmãos antropólogos Villas-Boas. Alguém poderia imaginar hoje tamanha homenagem aos cúmplices do crime organizado e símbolos do desmatamento e da destruição ambiental?
* Carlos Pronzato é cineasta, diretor teatral, poeta e escritor Sócio do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia (IGHB). [email protected]