O etarismo e o apagamento das mulheres
As mulheres enfrentam o que especialistas chamam de “duplo apagamento”: são vistas como menos capazes por conta da idade e por estarem fora do estereótipo da mulher jovem, produtiva e disponível.
Por Julia Portela
Os efeitos da menopausa fazem parte da realidade de milhares de mulheres no Brasil. No entanto, a tentativa de silenciar essa etapa da vida no ambiente corporativo, aliada à ausência de políticas específicas de amparo, escancara o machismo estrutural, o etarismo e a marginalização no mundo do trabalho.
Estudos apontam que 44% das mulheres na menopausa se sentem menos produtivas, reflexo direto da falta de acolhimento e de suporte institucional para lidar com sintomas físicos e emocionais como insônia, ondas de calor, fadiga, ansiedade e irritabilidade. Os efeitos são parte de um processo biológico natural, não podem, nem devem ser tratados como falhas profissionais.
As mulheres enfrentam o que especialistas chamam de “duplo apagamento”: são vistas como menos capazes por conta da idade e por estarem fora do estereótipo da mulher jovem, produtiva e disponível. É um ciclo cruel, que não reconhece a experiência, a liderança e a sabedoria acumuladas por essas profissionais, muitas vezes no auge da carreira.
Essa é uma pauta urgente. Lutar por ambientes de trabalho justos e saudáveis para as mulheres na menopausa é também lutar contra a lógica ultraliberal que descarta trabalhadores com base apenas em índices de produtividade.