Vacinas somem, capital lucra
O desabastecimento não é falha pontual, é consequência direta de uma política ultraliberal que enfraquece o SUS, corta investimentos e entrega áreas estratégicas ao capital.
Por Júlia Portela
Enquanto a indústria farmacêutica segue lucrando, mais de um terço dos municípios brasileiros está sem vacinas básicas para proteger a população. Segundo a Confederação Nacional de Municípios, a imunização contra varicela está em falta em 32% das cidades, e em muitas o desabastecimento dura mais de 90 dias. O problema é mais um retrato de um sistema de saúde submetido à lógica do lucro, que vê a prevenção como gasto e a doença como oportunidade de negócio.
Com a vacinação em queda, doenças que já haviam sido eliminadas, como a poliomielite, voltam a ameaçar a vida das crianças. Municípios relatam que as doses chegam com prazos curtos de validade ou são perdidas por baixa procura, num cenário agravado pela desinformação e pelo desmonte das campanhas públicas que garantiam altas coberturas vacinais.
O Ministério da Saúde admite a falta da vacina contra varicela e responsabiliza o laboratório fornecedor por não dar conta da produção. O que não diz é que esta dependência do setor privado é fruto de anos de sucateamento da capacidade pública de produzir vacinas. A lógica de mercado dita o ritmo da saúde: só há oferta quando há lucro garantido.
O desabastecimento não é falha pontual, é consequência direta de uma política ultraliberal que enfraquece o SUS, corta investimentos e entrega áreas estratégicas ao capital. Sem romper com esta lógica, a saúde seguirá como privilégio de poucos e o direito à vida um número no balanço das grandes indústrias.