O massacre invisível da juventude

Em 10 anos, 98.993 crianças e adolescentes com menos de 19 anos foram assassinados no Brasil, segundo a edição 2025 do Atlas da Violência, elaborado pelo Ipea e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública. A juventude é apagada antes mesmo de existir plenamente. 

Por Camilly Oliveira

Em 10 anos, 98.993 crianças e adolescentes com menos de 19 anos foram assassinados no Brasil, segundo a edição 2025 do Atlas da Violência, elaborado pelo Ipea e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública. A juventude é apagada antes mesmo de existir plenamente. 

 


É impossível ignorar que, além dos corpos violados, há uma guerra silenciosa acabando com vidas e apagando futuros em bairros periféricos, comunidades quilombolas e aldeias indígenas. 

 


As armas de fogo são as ferramentas preferidas do extermínio usadas em 83,9% dos assassinatos de adolescentes entre 15 e 19 anos e em 70,1% das crianças entre 5 e 14 anos. Em casa, onde deveria haver acolhimento, os números mostram horror: 67,8% das agressões contra bebês até 4 anos ocorrem na residência. A ideia de “lar” como abrigo não vale para a maioria das vítimas.

 


Pobres e negros seguem na linha de tiro. Em 2023, quase 22 mil jovens entre 15 e 29 anos foram assassinados, média de 60 por dia, mais da metade dos homicídios registrados no país. Em 11 anos foram mais de 312 mil. 

 


O massacre é alimentado por uma cultura de ódio, misoginia, abandono de políticas públicas e normalização da violência. O Atlas aponta que o avanço do radicalismo de extrema-direita, com discursos de intolerância, superioridade masculina e desprezo pela diversidade, fertiliza o terreno para a violência. 

 


No vácuo do Estado, a machoesfera, o bullying, o cyberbullying e a ausência de cuidado com a saúde mental empurram crianças e adolescentes para o suicídio. Foram mais de 11 mil casos entre 10 e 19 anos na última década, salto de 42,7%.