Precarização do atendimento e a exclusão digital
A cada dia, mais pessoas são abandonadas por um sistema que deveria ser inclusivo, mas que, na prática, transfere a responsabilidade para o indivíduo, ignorando as desigualdades do país.
Por Julia Portela
Cerca de 42,4% dos aposentados e pensionistas ouvidos em pesquisa da Polícia Federal afirmam não conhecer a plataforma digital Meu INSS, ferramenta criada para facilitar o acesso a serviços do Instituto Nacional do Seguro Social).
O dado revela uma realidade alarmante: a precarização do atendimento ao público, em um contexto onde a digitalização dos serviços públicos, impulsionada pela agenda ultraliberal, exclui aqueles que não têm acesso ou dificuldades em navegar no ambiente digital.
A cada dia, mais pessoas são abandonadas por um sistema que deveria ser inclusivo, mas que, na prática, transfere a responsabilidade para o indivíduo, ignorando as desigualdades do país.
O público-alvo do INSS, em sua grande maioria, e aposentado, um grupo especialmente vulnerável diante da digitalização dos serviços. A dificuldade em utilizar a plataforma impede que muitos possam acessar, por exemplo, a contestação de descontos indevidos nos benefícios, o que perpetua abusos. Dados do Índice de Alfabetismo Funcional (Inaf), com base em testes realizados em 2024, mostram que 48% das pessoas entre 50 e 64 anos apresentaram baixo desempenho em tarefas digitais básicas, como preencher formulários online ou realizar compras pela internet. Apenas 6% tiveram alto desempenho.
Essa realidade expõe ainda mais a estratégia de privatização disfarçada adotada pelo sistema. A dificuldade de acesso ao Meu INSS acaba forçando o aposentado a recorrer a intermediários pagos, abrindo portas para práticas de exploração, típicas do receituário ultraliberal.