O peso do sistema
Segundo o Painel da Obesidade do Ministério da Saúde, em 2006 o Brasil registrava 11,8% da população com obesidade. Em 2023, o percentual saltou para 24,3%.
Por Julia Portela
A obesidade é uma doença e não deve ser tratada apenas quando já se manifestam as complicações. Em uma sociedade marcada pelo crescimento da vulnerabilidade alimentar, da desigualdade social e da lógica de produção acelerada, a tendência é que essa condição se torne cada vez mais comum, afetando sobretudo os mais pobres.
Segundo o Painel da Obesidade do Ministério da Saúde, em 2006 o Brasil registrava 11,8% da população com obesidade. Em 2023, o percentual saltou para 24,3%. Esse crescimento está diretamente ligado ao aumento do consumo de ultraprocessados e à redução da atividade física, estimulada por jornadas exaustivas de trabalho, falta de acesso a lazer e alimentação de qualidade, e pela imposição de rotinas que priorizam o capital, nunca a saúde do trabalhador.
O alerta é global. O Atlas Mundial da Obesidade, da Federação Mundial da Obesidade, prevê que até 2044 quase metade da população adulta brasileira (48%) estará obesa, e outros 27% com sobrepeso. Esse cenário é o retrato de um país onde a indústria alimentícia lucra alto com produtos sem valor nutricional, enquanto existe uma falha em garantir políticas públicas de segurança alimentar, acesso à educação nutricional, incentivo ao esporte e ao lazer.
Ainda que a geração Z tenha promovido uma popularização de práticas esportivas, o debate precisa ser mais profundo e politizado. É preciso discutir escolhas alimentares não como “decisão individual”, mas como reflexo de um sistema desigual. Defender alimentação saudável e qualidade de vida é também defender políticas públicas, soberania alimentar e um modelo de sociedade que coloque o bem-estar acima do lucro.