O tiro no pé do agro bolsonarista
A concentração é o calcanhar de Aquiles de um setor que se vende como “potência global”, mas que se comporta como colônia. O tarifaço de Trump não é apenas uma medida econômica, mas um choque político que desmonta o mito de que bajular potências estrangeiras garante proteção e vantagens comerciais. Ao apostar no servilismo e no discurso ultranacionalista importado, o agro brasileiro cavou sua própria armadilha.
Por Camilly Oliveira
O tarifaço de 50% imposto por Donald Trump contra parte dos produtos agrícolas brasileiros escancara uma ironia difícil de ignorar. O mesmo agronegócio que serve de base eleitoral para Bolsonaro, que exalta líderes da extrema-direita e vive em síndrome de vira-lata diante dos EUA, agora amarga o prejuízo.
Café, carne bovina e derivados entraram no alvo com o tarifaço, enquanto apenas exceções pontuais como suco de laranja e castanhas escaparam. Não é mero azar, mas resultado previsível de um alinhamento político que trocou a soberania nacional por aplausos de plateia estrangeira.
Em 2024, o agro representou 30% das exportações brasileiras aos EUA, somando US$ 12,1 bilhões. Só o café em grão rendeu US$ 1,17 bilhão no primeiro semestre de 2025 para o mercado norte-americano. A carne bovina gerou mais de US$ 1 bilhão no mesmo período, sendo 65% da industrializada destinada exclusivamente aos EUA.
A concentração é o calcanhar de Aquiles de um setor que se vende como “potência global”, mas que se comporta como colônia. O tarifaço de Trump não é apenas uma medida econômica, mas um choque político que desmonta o mito de que bajular potências estrangeiras garante proteção e vantagens comerciais. Ao apostar no servilismo e no discurso ultranacionalista importado, o agro brasileiro cavou sua própria armadilha.