Dependência digital na mira do SUS

Avança na Câmara dos Deputados o projeto de lei que propõe a criação de um protocolo clínico no SUS para tratar a dependência tecnológica causada pelo uso excessivo de internet, redes sociais, videogames e outros dispositivos digitais.

Por Julia Portela

Avança na Câmara dos Deputados o projeto de lei que propõe a criação de um protocolo clínico no SUS para tratar a dependência tecnológica causada pelo uso excessivo de internet, redes sociais, videogames e outros dispositivos digitais. O texto está pronto para ser votado na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania), e coloca a discussão sobre o impacto da tecnologia no centro do debate sobre saúde pública.

 

O projeto prevê que o diagnóstico será feito com base na CID (Classificação Internacional de Doenças), da OMS (Organização Mundial da Saúde), e na legislação brasileira que regulamenta o exercício da medicina. Embora a OMS ainda não reconheça a “dependência tecnológica” como uma doença, desde 2019 a entidade já incluiu o “transtorno por uso de jogos eletrônicos” na CID, caracterizado pela perda de controle e pela priorização extrema da atividade em relação às demais áreas da vida. O alerta é claro: a linha entre o uso e o abuso está cada vez mais tênue, especialmente entre jovens.

 

A dependência tecnológica não pode mais ser tratada como exagero ou capricho. Seus impactos são reais e profundos, afetando a capacidade de convivência social, de desempenho no trabalho e na escola, além de comprometer a saúde mental. Enquanto grandes corporações lucram com a atenção constante e os dados pessoais, trabalhadores, jovens e crianças são deixados à própria sorte em um cenário de alienação digital crescente.

 

Reconhecer o problema como uma questão de saúde pública é passo fundamental para garantir acesso a tratamento digno e gratuito. Com a regulamentação, o Estado protege a população, não os interesses das big techs. Uma rasteira no desmonte do SUS e na lógica ultraliberal que tem tomado os poderes públicos.