Intoxicação em nome do lucro

Casos recentes de intoxicação por metanol, após o consumo de bebidas alcoólicas adulteradas, voltam a colocar em evidência o resultado direto de um sistema no qual o que importa não é a saúde pública, mas sim o ganho fácil, mesmo que à base de veneno.

Por Julia Portela

Casos recentes de intoxicação por metanol, após o consumo de bebidas alcoólicas adulteradas, voltam a colocar em evidência o resultado direto de um sistema no qual o que importa não é a saúde pública, mas sim o ganho fácil, mesmo que à base de veneno.  A substância, proibida para uso em bebidas, é altamente tóxica e tem causado mortes e danos irreversíveis à saúde de quem consome produtos contaminados.

 

Não se trata de um simples acidente químico ou erro pontual. É resultado direto da adulteração criminosa das bebidas, com a adição ilegal de metanol, substância de baixo custo, obtida facilmente durante a produção de solventes e combustíveis. A motivação é clara: reduzir custos para ampliar lucros. A palavra “baratear” virou sinônimo de desumanização, escancarando os trilhos por onde corre a lógica ultraliberal.

 

A ganância não tem limites. A lógica do lucro acima da vida atravessa setores e esferas sociais, encontrando terreno fértil tanto em grandes empresas quanto no crime organizado. Seja nas demissões em massa, na precarização dos serviços públicos ou na venda de produtos que envenenam, o resultado é sempre o mesmo: vidas descartadas em nome do capital.

 

Enquanto o sistema empurra os trabalhadores ao adoecimento, ao endividamento e ao desespero, até os espaços de lazer se tornam armadilhas. Beber um drink no fim de semana pode significar risco de morte. A política do “livre mercado” mostra sua face mais cruel: desregulamentar, terceirizar, baratear e, se necessário, enterrar. E o que deveria ser crime é tratado como dano colateral.