Desigualdade escolar é projeto de poder
O número representa 12,5% dos mais de 33 milhões de alunos da rede pública e escancara uma realidade brutal: a exclusão educacional segue como ferramenta de manutenção das desigualdades estruturais no país.
Por Julia Portela
Mais de 4,2 milhões de estudantes da educação básica no Brasil estão com dois anos ou mais de atraso escolar, segundo levantamento do Unicef com dados do ano passado. O número representa 12,5% dos mais de 33 milhões de alunos da rede pública e escancara uma realidade brutal: a exclusão educacional segue como ferramenta de manutenção das desigualdades estruturais no país.
Apesar da leve redução em relação a 2023, quando a taxa de distorção idade-série era de 13,4%, o índice segue alarmante. O dado aponta não só para falhas históricas de gestão e financiamento, mas também para as consequências diretas dos ataques neoliberais à escola pública, que enfraqueceram políticas sociais e aprofundaram a precarização do ensino.
Nos últimos anos, o país sofreu com cortes orçamentários, desprezo pela ciência e destruição de programas estruturantes. A herança do desmonte promovido por governos ultraliberais ainda é sentida nos corredores das escolas públicas, especialmente nas periferias e zonas rurais, onde a educação é muitas vezes a única ponte possível para a transformação social.
O governo Lula retomou políticas educacionais que visam reconstruir parte desse cenário. A prioridade dada à alfabetização, à reformulação do ensino médio e à criação do programa Pé de Meia representam passos importantes, traçando um caminho para reconstrução, mas o problema é profundo.
Educação pública, gratuita e de qualidade não é gasto, é direito. Tratar a escola como prioridade é enfrentar de forma direta o projeto excludente do capital, que lucra com a ignorância e marginaliza milhões. É preciso reconhecer: sem educação, não há povo consciente, e sem povo consciente, não há democracia real.