A matemática da exclusão urbana
As regiões metropolitanas brasileiras alcançaram em 2024 os menores patamares de desigualdade e pobreza desde 2012, de acordo com o boletim Desigualdade nas Metrópoles, elaborado pelo Observatório das Metrópoles, PUCRS Data Social e RedODSAL. O movimento foi impulsionado por fatores como o reajuste real do salário mínimo, recuperação do mercado de trabalho e a valorização da renda do trabalho, mostrando que as políticas públicas e a organização social têm papel decisivo na redução das desigualdades.
Por Camilly Oliveira
As regiões metropolitanas brasileiras alcançaram em 2024 os menores patamares de desigualdade e pobreza desde 2012, de acordo com o boletim Desigualdade nas Metrópoles, elaborado pelo Observatório das Metrópoles, PUCRS Data Social e RedODSAL. O movimento foi impulsionado por fatores como o reajuste real do salário mínimo, recuperação do mercado de trabalho e a valorização da renda do trabalho, mostrando que as políticas públicas e a organização social têm papel decisivo na redução das desigualdades.
O índice de Gini caiu de 0,550 para 0,534 em apenas um ano, e a proporção de pessoas pobres recuou de 23,4% para 19,4%, o que significa 9,5 milhões de brasileiros a menos nessa condição desde 2021.
Mesmo assim, os números deixam claro o tamanho do abismo existente no país. No ano passado, os 10% mais ricos receberam, em média, R$ 10,4 mil per capita, enquanto os 40% mais pobres viveram com apenas R$ 670,00 - diferença de 15,5 vezes. É o menor contraste da série histórica, mas ainda muito superior ao de países desenvolvidos. Ou seja, mesmo quando os indicadores melhoram, a concentração de renda brasileira segue em um patamar estruturalmente perverso.
O recuo dos indicadores não elimina os muros invisíveis que dividem a vida urbana, com periferias precarizadas de um lado, condomínios de luxo do outro. A desigualdade não se mede apenas em salários, mas também no acesso a transporte, educação, saúde e moradia digna. A redução recente é um avanço inegável, fruto de escolhas políticas e sociais, mas não significa que o Brasil tenha superado a herança de exclusão.