A ilusão do milagre

O Brasil tem 23 milhões de apostadores, 15% da população adulta, movimentando cerca de R$ 100 bilhões por ano. A maioria é composta por homens jovens das classes C e D, mas o impacto se espalha pelas famílias inteiras. Enquanto o Ministério da Fazenda determina o bloqueio de cadastros de beneficiários nas bets, o efeito tende a ser limitado.  

Por Camilly Oliveira

As apostas online se transformaram em um fenômeno econômico e social que escancara as contradições do país. Em apenas um mês, beneficiários do Bolsa Família movimentaram R$ 3,7 bilhões em sites de apostas, equivalente a mais de um quarto de todo o orçamento mensal do programa. Foram 4,4 milhões de famílias transferindo dinheiro para as bets, enquanto 4% delas concentraram 80% do valor total apostado, um dado que levanta suspeitas de uso irregular de CPFs e possíveis esquemas de lavagem de dinheiro.

 


As apostas crescem nos mesmos lugares onde a fome e o desemprego aumentam. Para milhões de pessoas de baixa renda, apostar virou um ato de desespero, o sonho de um “milagre” financeiro que não vem. 

 


Quase metade dos apostadores está endividada e 10% demonstram tendência ao vício, apontam a Anbima e o Datafolha. Entre os que mais apostam, 52% dizem tentar recuperar perdas jogando de novo, um ciclo de prejuízo e culpa que se retroalimenta.

 


O Brasil tem 23 milhões de apostadores, 15% da população adulta, movimentando cerca de R$ 100 bilhões por ano. A maioria é composta por homens jovens das classes C e D, mas o impacto se espalha pelas famílias inteiras. Enquanto o Ministério da Fazenda determina o bloqueio de cadastros de beneficiários nas bets, o efeito tende a ser limitado.