Cuidado que transforma o trabalhador
A crise de saúde mental no trabalho, que atinge em cheio o sistema financeiro, é consequência de um modelo econômico que transforma pessoas em números. Apenas o lucro e a produtividade importam.
Por Ana Beatriz Leal
A crise de saúde mental no trabalho, que atinge em cheio o sistema financeiro, é consequência de um modelo econômico que transforma pessoas em números. Apenas o lucro e a produtividade importam. Milhares de trabalhadores carregam nas costas o peso das metas abusivas, jornadas extenuantes e ambientes tóxicos que só levam a um caminho: o adoecimento.
Neste contexto, a atualização da NR-1, que entrou em vigor este ano e torna obrigatória a gestão de riscos psicossociais, é importante. A Norma Regulamentadora é excelente, mas sozinha não faz milagre. As empresas têm de cumpri-la.
A realidade é problemática. Em 2024, mais de 472 mil brasileiros foram afastados do trabalho por transtornos mentais. É o maior número já registrado pela Previdência Social. Nos bancos não é diferente. São muitos os casos de ansiedade, depressão e síndrome de burnout. Os afastamentos por transtornos mentais cresceram 168% em 10 anos.
Dados da Vittude revelam que 42% dos trabalhadores brasileiros apresentam sofrimento mental moderado ou severo. Reflexo de um modelo de gestão que normaliza a exploração e o adoecimento.
Com o debate sobre a implementação efetiva da NR-1 vem também o discurso de que “cuidar da saúde mental é cuidar da performance do empregado”. Mas, se olhada com atenção, a declaração carrega a lógica cruel de que o cuidado só vale se gerar lucro.
