A velha herança do racismo
Não existe escolha individual quando a vida é determinada pela exclusão, já que o analfabetismo destas pessoas não nasce da falta de interesse, mas de uma estrutura que sempre distribuiu oportunidades de forma desigual. Enquanto idosos brancos atingem 8,7%, o abismo racial permanece explícito e denuncia o custo humano desta desigualdade prolongada.
Por Camilly Oliveira
A queda no analfabetismo de 36% para 22,1% entre pessoas negras com 60 anos ou mais, registrada pelo Cedra com base na PNAD Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), mostra o avanço inegável do ensino, mas também evidencia a marca profunda de um passado que empurrou gerações inteiras para fora da escola.
Não existe escolha individual quando a vida é determinada pela exclusão, já que o analfabetismo destas pessoas não nasce da falta de interesse, mas de uma estrutura que sempre distribuiu oportunidades de forma desigual. Enquanto idosos brancos atingem 8,7%, o abismo racial permanece explícito e denuncia o custo humano desta desigualdade prolongada.
Jovens negros passaram de 2,4% para 0,9% no mesmo período, e a diferença racial caiu para quase zero, sinal de que quando o Estado garante escola, transporte, permanência e políticas afirmativas, a desigualdade educacional recua. No entanto, o contraste entre gerações não pode ser romantizado: idosos negros de 2023 vivem condições equivalentes às de idosos brancos de 2012.
Os novos dados mostram que o país avançou, mas ainda empurra a velhice negra para o fim da fila. Uma democracia que se diz plena não pode aceitar que quase um quarto dos idosos negros não saiba ler ou escrever. A redução das taxas precisa acelerar, e isso passa primeiro por políticas robustas de EJA (Educação de Jovens e Adultos), busca ativa, incentivos reais e um compromisso público que trate a alfabetização da população idosa como reparação histórica.
