O mercado não está preparado para o envelhecimento
Há um paradoxo no Brasil, onde a legislação exige que os trabalhadores contribuam por mais anos antes de se aposentar, mas o mercado descarta os profissionais com mais anos de experiência. Engana-se quem pensa que o impacto é individual.
Por Ana Beatriz Leal
Em 2030, haverá mais idosos do que crianças no Brasil. É o que estima o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Mas, há dúvida se o país de fato está preparado para o envelhecimento da população. As barreiras existem, como, por exemplo, no mercado de trabalho, em que a longevidade não se traduz em oportunidades.
A exclusão deste grupo é real. De acordo como o estudo Talent Trends 2025, realizado pela Michael Page, 41% dos profissionais brasileiros acima de 50 anos já sofreram etarismo ao longo das carreiras. Além disto, 6% dos trabalhadores relataram discriminação nos empregos atuais, abaixo da média global de 12%, e somente 26% perceberam iniciativas de inclusão etária nas empresas.
Há um paradoxo no Brasil, onde a legislação exige que os trabalhadores contribuam por mais anos antes de se aposentar, mas o mercado descarta os profissionais com mais anos de experiência. Engana-se quem pensa que o impacto é individual.
Trabalhadores excluídos do mercado formal são empurrados para a informalidade ou tornam-se dependentes de benefícios sociais. Daí o país perde arrecadação, desperdiça conhecimento e reduz a produtividade.
O Brasil precisa caminhar na direção de países que, através de iniciativas públicas e privadas, buscam manter profissionais no mercado por meio de requalificação digital ou incentivos à permanência após os 60 anos. Na União Europeia, por exemplo, houve alta da taxa de emprego entre trabalhadores com mais de 55 anos, em função de reformas e políticas voltadas à longevidade ativa.
Para as empresas brasileiras, cabe abandonar preconceitos enraizados e promover práticas de gestão inclusivas. Mudar processos de recrutamento, investir em capacitação contínua, valorizar a experiência em posições estratégicas, além de promover equipes multigeracionais. A diversidade etária é importante e envelhecer não é um fardo.
