O agro e a fumaça do lucro

O agronegócio é responsável por mais de 97% do desmatamento no Brasil, aponta dados do Mapbiomas. Entre 2019 e 2024, o país perdeu mais de 9 milhões de hectares de mata nativa, área equivalente ao tamanho da Coreia do Sul. Dois terços da devastação estão concentrados na Amazônia Legal.

Por Julia Portela

O agronegócio é responsável por mais de 97% do desmatamento no Brasil, aponta dados do Mapbiomas. Entre 2019 e 2024, o país perdeu mais de 9 milhões de hectares de mata nativa, área equivalente ao tamanho da Coreia do Sul. Dois terços da devastação estão concentrados na Amazônia Legal.

 


A destruição escancara a face de um modelo econômico predatório, sustentado por um projeto político que privilegia o lucro de poucos em detrimento do futuro de todos. A monocultura extensiva, como a soja, e a pecuária avançam sobre os biomas, mesmo com o aumento das fiscalizações.

 


O agronegócio, alçado pela grande mídia à condição de “orgulho nacional”, é incompatível com a democracia social. Na prática, empurra pequenos produtores para a margem, contamina territórios com agrotóxicos, explora mão de obra em condições degradantes, promove a grilagem de terras e viola sistematicamente os direitos de povos indígenas e comunidades tradicionais.

 


Por trás da propaganda verde, o que se vê é a consolidação do modelo ultraliberal, extrativista e concentrador de renda, que destrói a natureza e as formas de vida que dela dependem. A legislação, como o Código Florestal, serve ao latifúndio. No Cerrado, por exemplo, apenas 20% das áreas privadas precisam preservar vegetação nativa. O restante pode ser legalmente destruído.

 


Há outros caminhos e o governo Lula sinaliza disposição para mudar. O fortalecimento da agricultura familiar mostra que é possível produzir alimento de verdade sem destruir florestas, sem envenenar a terra, sem expulsar ninguém do campo. Apesar dos benefícios, encontra resistência no Congresso Nacional dominado pela extrema direita e parlamentares ligados ao agro.