Deficiência e a Política do Descarte
Quando um trabalhador tem uma condição física ou psicológica que pode ser vista como um obstáculo à produtividade, a tendência do mercado é não oferecer oportunidades ou descartá-lo o mais rápido possível.
Por Julia Portela
O Brasil tinha, no ano da pesquisa, 14,4 milhões de pessoas com deficiência — o que representa 7,3% da população com 2 anos ou mais de idade. Os dados foram divulgados nesta sexta-feira (23) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A pesquisa considera pessoas com 2 anos ou mais que apresentam alguma impossibilidade ou grande dificuldade para enxergar, ouvir, andar ou manipular objetos pequenos. Diante dessa realidade, cabe a pergunta: quais garantias o governo e as empresas estão criando para assegurar um acesso equitativo a direitos e oportunidades?
No modelo capitalista e ultraliberal predominante, a lógica é de exclusão. Quando um trabalhador tem uma condição física ou psicológica que pode ser vista como um obstáculo à produtividade, a tendência do mercado é não oferecer oportunidades ou descartá-lo o mais rápido possível.
Segundo o IBGE, pessoas com deficiência têm menor presença no mercado de trabalho em comparação àquelas sem deficiência. Em 2019, a taxa de participação dessas pessoas era de 28,3%, menos da metade da taxa entre pessoas sem deficiência (66,3%). Além disso, apenas 34,3% dos trabalhadores com deficiência tinham vínculo formal.
A luta sindical deve dar voz a essa parcela da população. A dignidade e o direito ao trabalho precisam ser garantidos a todos. Não podemos tratar essa questão como um tema sensível apenas: estamos falando de 14,4 milhões de cidadãos. É fundamental cobrar políticas públicas que reduzam os índices de desemprego e que viabilizem condições dignas de trabalho. Essa é uma pauta essencial no nosso debate