Fogo invisível ameaça biodiversidade
As áreas que deveriam servir como refúgio para os animais após os incêndios estão deixando de cumprir essa função vital.
Por Julia Portela
A biodiversidade é ameaçada até em florestas que não foram diretamente atingidas por incêndios. É o que revela um estudo feito por cientistas brasileiros no Corredor Cantareira-Mantiqueira — uma das áreas mais ricas da Mata Atlântica — e publicado no periódico Forest Ecology and Management. As áreas que deveriam servir como refúgio para os animais após os incêndios estão deixando de cumprir essa função vital.
A explicação está na forma com que o fogo, muitas vezes criminoso, se espalha e compromete a integridade dos ecossistemas como um todo. Os incêndios, cada vez mais frequentes e intensos, não são fenômenos naturais: são frutos de um modelo de exploração que vê o meio ambiente como obstáculo ao lucro.
A heterogeneidade das queimadas, agravada por práticas ilegais, destrói habitats e interrompe rotas de sobrevivência dos animais. Mesmo aqueles que conseguem fugir das chamas encontram florestas degradadas, contaminadas e incapazes de sustentar a vida, consequência direta da destruição.
O estudo aponta que os impactos vão além do visível. Há contaminação, infecções e desorientação da fauna silvestre, mesmo em áreas que deveriam estar intactas. A devastação do verde é também da vida invisível: os ciclos ecológicos são rompidos, as espécies desaparecem em silêncio, e os efeitos da tragédia se espalham por todo o ecossistema.